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outubro 31, 2017

RETRATO DE MULHER (Carlos J. Tavares Gomes)
Seu velado sorriso fertiliza 
a paisagem estéril ao fundo 
e seus olhos insinuantes 
agitam meu oceano libídico. 

A ausência de rosas, dálias, 
papoulas, margaridas... 
de flores 
não afasta de você 
a primavera, 
mesmo após várias luas. 

O retrato perde-se na moldura, 
mas a mulher é o abismo de aromas, 
corredor presente de voos possíveis 
onde debilmente macho 
tateio meu futuro infantil. 

Em suas fontes, matas, 
montes e curvas de além-mar, 
dedilho, navegante, a música de 
toda minha existência. 
FILHAS DE VÊNUS (C. R. Nazareth)
A orgulhosa Vênus, deusa do prazer sem igual,
empresta a suas filhas sensuais a chama imortal.
Seja no gelado deserto ou no calor tropical,
a todas confere desejo e prazer sem igual.

A todas confere da paixão o calor
e a todas excita, conduzindo ao profundo ardor.
Assim, não importa o lugar do mundo aonde se vá,
a doce explosão da volúpia lá estará.

Cálido arrebatamento através dos corpos balançando,
na ânsia do jorrar, o auge do prazer alcançando.
Em meio aos gemidos, seja morena ou loira, é uma arte,
uma filha de Vênus é imperatriz em toda parte. 
OLHAR CONSUMISTA (Cristiane Neder)
Nestes nus
que tento seduzir
meus olhos ficam vazios
de tanto te invadir.
Os teus olhos
que saem da plateia
chegam a me contaminar
estragando
minhas ideias velhas,
que eu tinha no lugar
e pensava que eram valiosas
como um quadro de Picasso.
Todo amor
tem seu traço aberto
na hora ága de se apagar.
Minha vida consumista
faz do amor
um objeto vulgar,
cheio de coisas novas
numa vitrine sem par,
e meus olhos
cheios de desejo
querem te consumir
a qualquer preço.
ÁGUAS DE FORESTIER(Cristiane Neder)
O vinho que toca seus lábios
desperta o pecado
em um pobre pagão
que sonha com o paraíso,
onde todas as águas
se transformam em vinho,
dos rios, lagos, marés e cachoeiras,
salgadas, doces, porém todas vermelhas.
Lavando seus pés,
molhando os seus seios,
escorrendo sobre todo seu corpo
o doce veneno,
que nos embriaga a sede de outras paixões.
Pequenos Bacos
brincando de serem anões,
e todo pecado será desculpado
por todo motivo impulsionado por prazer.
Toda musa será deusa,
todo ateu será José,
e o pecado é não beber
da fonte das águas de Forestier.

QUERIA EXPERIMENTAR NO SEU CORPO TODOS OS LUGARES DO MUNDO JUNTOS (Cristiane Neder)
(para Lorraine Williams)
Queria experimentar
todas as alturas do mundo
ao seu lado,
e perder o medo
de andar pelo céu
e conversar com os anjos.
Queria voar
e cair
sem paráquedas
para te abraçar
bem apertado,
e sentir o vento denso
das cordilheiras do Himalaia
e o silêncio e o calor
do deserto do Saara,
pois no seu corpo
há todos os lugares belos
do mundo juntos
tatuados,
há todas as maravilhas
imaginadas e sonhadas
do planeta terra
na sua mais exata perfeição,
pois por onde você passa
sua pele recebe a energia
de cada lugar especial,
e registra na tua pele
um pouco de cada cultura.

OS COGUMELOS DO PARAÍSO (Cristiane Neder)
Minha loucura 
não tem complexo 
nem de Édipo, nem de Electra, 
nem de qualquer puro amor 
que saia das artérias.
Vivo no paraíso dos cogumelos 
dias tristes, dias alegres, 
mas tudo é ilusão passageira, 
só não passa nesta vida 
a casca estrangeira.
O doce e o amargo 
do sabor da tua língua 
ficou no Caribe 
lá nos portos cheios de gozo 
e de prostituição. 
Os cogumelos do paraíso 
são adubados com a maresia 
e os marujos já não são mais fêmeas, 
pois as fêmeas são eternos machos 
depois da ceia que consome seus rabos.
Nós não temos nada, 
se temos a vida 
ela ainda nos deve a morte, 
portanto tudo é ilusão 
dias de trabalho, outros de ócio 
dias de amor, outros de ódio, 
e os cogumelos são adubados 
para fabricar desejos, 
e onde não há alucinação 
não germina gente, 
nem se fabrica coração.

RITUAL (Carlos Alberto Pessoa Rosa)
Seus olhos
ovulam um verde mediterrâneo
espermatozoides
agitam-se em gôndolas
sua língua
passeia em minha boca
meu pênis
endurece e penetra sua vagina

gozemos
há um ritual de procriação
mergulhado
nesses olhos verdes
 quem sabe
dele nascerá algum poeminha?
VAGINA (Calex  Fagundes)
I
Teus lábios,

doce mel de frutas sazonais,
se oferecem livres
ao desfrutar dos beijos.

Tua boca molhada,

ostra aberta ao desejo,
saliva de todas delícias.
A flor de todas carícias
tuas pétalas
ficam expostas aos meus sentidos.

Abre-se,

jardim das virtudes,
fazendo-se carne
e despeja sobre mim
tua água farta.

O calor de teus ermos,

o vale de tua sombra,
transmite-me, dentro de ti,
a dádiva profana da terra onde
todos os frutos habitam
e se depositam
todas as sementes.

Sabe-se que tu, mulher,

antes de mais nada
tens a vagina preparada
para afirmar-te fêmea
a qualquer tempo.

II
Tenho a ânsia infinita de te possuir

até o fundo, sem qualquer constrangimento.
E ao mesmo tempo quero fazer-te sentir
-se, então, senhora nem que por um momento.

Em meio à faina, meio da batalha.

Espada em riste, sem traço de clemência.
Afasto as portas de tua residência
e cravo tudo rompendo a tua malha.

E ao sentir-se tão fundo lancetada

tua vagina entrega-se de todo,
vibra por dentro, toda encharcada
e me domina enquanto eu a fodo.

E a luta afasta de nós todas as éticas

no afã de possuir a alma alheia.
Uma ciranda entoada sem poéticas,
uma charanga expressa em carne, nervo e veia.

E eu te domo, gazela desfreada.

E eu te como, boceta enfurecida.
Eu te quero assim, escancarada,
pra despejar em ti a minha vida.

E se aproxima a última estocada

o frenesi expresso, uníssono dueto
tua boceta me traga esfaimada
e te devoro no teu fundo aposento.

Mas num momento em que tudo é mais tudo,

como se fizesse a morte inquilina.
nesse instante supremo eu fico mudo
e me rendo, inteiro, em tua vagina.



ENTREGA (Camila Sintra)

ENTREGA (Camila  Sintra)
Um beijo desce pelo corpo
passeia pelas pernas
beijando cada dedinho do pé
sobe pelas curvas das ancas
deslizando no meio das nádegas
serpenteando pelas costas acima
até atingir a nuca
afastar teus cabelos
tornear tuas orelhas
buscando teus lábios abertos.

Encontro de línguas em fogo
e mãos que descem aos seios
teus mamilos em minha boca
teu arfar em meu coração
minha alma em teus braços.

No meio de tuas pernas
o cheiro perfumado do prazer
atrai meu encaixe que busca
tua entrada que acolhe
sem pensar em mais nada.
O MÍNIMO DE NÓS DOIS(Camila Sintra)
No pequeno espaço
entre teu olhar e o meu
brilha a estrela do desejo
que nos guia um para o outro.

Na ausente distância
entre teus lábios e os meus
brincam e fundem-se os hormônios
da nossa química mais secreta.

No mínimo silêncio
onde somente nossos corpos falam
deslizam mãos em carícias
de tatos cegos que tudo dizem.

No fugaz e eterno momento
da consumação de nosso amor
gritam gargantas no gozo do prazer
da quase dor desse explodir.

SEIOS (Camila Sintra)


Sei que não é para mim
teu leite tão doce
e que a boca que o tem
não te deseja como eu.

Sei que não posso beber tudo
que devo sugar pouco
algumas gotas de teu mel
mas que me alucinam.

Sei que logo vai secar
em breve teus seios voltam
teu filho desmama
e não mais mamarei eu.

Sei que sempre sugarei
teus peitos generosos
teus mamilos penetrantes
tuas carnes que desejo.

Sei que quero te beber
beber-te toda e para sempre
na forma de leite, saliva,
em tua boca, seios e vagina!
ARREPIOS (Camila Sintra)
o beijo nos lábios
arrepia o pescoço

a mão nas tetas
arrepia os mamilos

a língua no grelo
arrepia a espinha

o dedo no cu
arrepia o ventre

o pau na boceta
arrepia até a alma

e teu olhar no meu
arrepia-me como mais nada.
GOZO (Carlos Alberto Pessoa Rosa)
silencioso.

solto
disperso
aberto

delicioso.

desprendido
desatado
desobrigado

viver.

sem rumo
sem nada
sem ter

em regozijo
        num gozo intenso.

O SEXO É SAGRADO ( Cláudia Marczak )

O sexo é sagrado, 
como salgadas são as gotas de suor 
que brotam dos meus poros 
e encharcam nossas peles. 
A noite é meu templo 
onde me torno uma deusa enlouquecida 
sentindo teus pelos sobre a minha pele. 
Neste instante já não sou nada, 
somente corpo, 
boca, 
pele, 
pelos, 
línguas, 
bocas. 
E a vida brota da semente, 
dos poucos segundos de êxtase. 
Tuas mãos como um brinquedo 
passeiam pelo meu corpo. 
Não revelam segredos 
desvendam apenas o pudor do mundo, 
descobrem a febre dos animais. 
Então nos tornamos um 
ao mesmo tempo em que 
a escuridão explode em festa. 
A noite amanhece sem versos, 
com a música do seu hálito ofegante. 
O sol brota de dentro de mim. 
Breves segundos. 
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento. 
Eu fui feliz.

outubro 28, 2017

AMAR DENTRO DO PEITO UMA DONZELA;
JURAR-LHE PELOS CÉUS A FÉ MAIS PURA;
FALAR-LHE, CONSEGUINDO ALTA VENTURA,
DEPOIS DA MEIA-NOITE NA JANELA;

FAZE-LA VIR ABAIXO, E COM CAUTELA
SENTIR ABRIR A PORTA, QUE MURMURA;
ENTRAR PÉ ANTE PÉ, E COM TERNURA
APERTA-LA NOS BRAÇOS CASTA E BELA;

BEIJAR-LHE OS VERGONHOSOS, LINDOS OLHOS,
E A BOCA, COM PRAZER O MAIS JUCUNDO, 
APALPAR-LHE DE LEVE OS DOIS PIMPOLHOS;

VE-LA RENDIDA ENFIM A AMOR FECUNDO;
DITOSO LEVANTAR-LHE OS BRANCOS FOLHOS;
É ESTE O MAIOR GOSTO QUE HÁ NO MUNDO.
(Bocage * 1765 - 1805)
Retirado do livro Erotismo & Sensualidade em versos. Seleção: Renata Cordeiro.
O TEU CABELO ENLAÇA-ME, SENHORA!
TUA FORMOSA FRONTE ME ENTERNECE,
O LUME DE TEUS OLHOS ME ESCURECE,
E TEU NARIZ ME ENCENDE DE HORA A HORA.

TUA PEQUENA BOCA ME ENAMORA,
TEU PESCOÇO ALABASTRO ME PARECE,
TEUS PEITOS LEITE QUE JÁ MÍNGUA E CRESCE,
NO MEIO ESTÃO DOIS VULTOS DE UMA AURORA.

TEU VENTRE PLANO E LISO É MINHA GLÓRIA;
AS BRANCAS PERNAS, ONDE VIVO E MORRO;
TEU PÉ PEQUENO, ONDE PERCO O SISO.

MAS ONDE SINTO ME FALTA A MEMÓRIA,
E COMPARAR NÃO SEI COMO SOCORRO,
É NO QUE É BEM MELHOR QUE TUDO ISSO.
(Jardim  de  Vênus * século XVI)
Retirado do livro Erotismo & Sensualidade em versos. Seleção: Renata Cordeiro.

outubro 25, 2017

EXTERIOR  (Wally Salomão)
Por que a poesia tem que se confinar
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
-CARPE DIEM! -
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não poder travestir-se
com os clitóris e balagandãs da lira?



BIOGRAFO-ME EM TEU CORPO DESPINDO OS CASCOS
E  AS CRINAS DE ÉGUA A ME TORNAR DOCE,
CÔNCAVA, AMÊNDOA, COMBUSTÍVEL PARA OS VOOS:
MEL PARA AS NOSSAS ASAS, FEL PARA O REPOUSO.
(Olga  Savary)

DELTA (Olga  Savary)
SE ESTE CORPO É UM FIGO ABERTO
(COLHEITA SÓ DE FRUTOS ROXOS)
OU COMO VOGAL ABERTA.
COMO UM A
DE AVE,
ÁGUA,

ORO TU PIEL
AH MIEL!
NOME (Olga  Savary)
DIRIA QUE AMOR NÃO POSSO
DAR-TE DE NOME, ARREDIA
É O QUE CHAMAS DE POSSE
À OBSESSÃO QUE TE MOSTRA
AO VALE DAS MINHAS COXAS
E MAIOR É O APETITE
COM QUE TE MORDE AS ENTRANHAS
ESTE FRUTO QUE SE ABRE
E ELE SIM É QUE TE COME,
QUE TE COMO POR INTEIRO
MESMO NÃO SENDO REPASTO
O FRUTO TEU QUE DEGLUTO
QUE DE SEMENTE ME SERVE
À POESIA.
POEMA AO DESEJO (Maria Tereza Horta)
EMPURRA A TUA ESPADA
NO MEU VENTRE
ENTERRA-A DEVAGAR ATÉ AO CIMO.

QUE EU SINTA DE TI
A QUEIMADURA
E A TUA MORDEDURA NOS MEUS RINS.

DEIXA DEPOIS QUE TUA BOCA
DESÇA
E ME CONTORNE AS PERNAS COM DOÇURA.

Ó MEU AMOR A TUA LÍNGUA
PRENDE
AQUILO QUE DESPRENDE DE LOUCURA.


ANTECIPAÇÃO (Maria Tereza Horta)
ENTREABO AS MINHAS
COXAS
NO INÍCIO DOS TEUS BEIJOS.

IMAGINO AS TUAS
PERNAS
GUIADAS PELO DESEJO.

OIÇO BAIXO O TEU
GEMIDO
CALADO PELOS MEUS DENTES.

IMAGINO A TUA BOCA
RASGADA
SOBRE O MEU VENTRE.