Queria seguir a corrente
Das águas do teu mar
E aprisionar-me a ti únicamente
Rendida ao teu amor ficar.
E viver em ti e contigo
Desde o ressurgir ao morrer do dia
Até ao levantar das estrelas
Até que a lua sorria.
Dois corpos que se incendeiam
Que morrem no mesmo abraço
Queria ficar nessa teia
Seguir contigo teu passo.
Ser ave livre de repente
Nessa luz amanhecida
Ser tua água transparente
Ser teu poema, tua vida.
Ser a paisagem do teu olhar
O horizonte da tua memória
Ser a fuga e o aproximar
Renascer de novo na tua desmemória.
Percorrer o teu corpo, sedenta
Reacender o alento apagado
Esquecer as rugas, como quem inventa
Que o Sol entrou em nós inesperado.
Banhar as palavras em insanidade
Lançá-las do alto dos rochedos
Fazê-las brotar em fontes azuis de saudade
E rodopiá-las na febre dos meus dedos.
E eu continuo a querer!
Estar contigo até ao esquecimento
Deixar os anos decorrer
Em fantasias ébrias
Largar o pensamento.
O blogue tem a proposta de divulgar e valorizar a poesia universal sempre com ilustrações que procuram enaltecer a beleza feminina e respeitando sempre os autores das obras aqui postadas. "O único jeito de suportar a existência é mergulhar na literatura como numa orgia perpétua". ( Gustave Flaubert )
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novembro 25, 2023
RENDIDA AO TEU AMOR ( Natália Nuno )
BRISA DO MAR ( Isabel Morais Ribeiro Fonseca )
Uma força que me leva até ti
Quando o vento passa e acaricia o meu rosto
Sinto que são as tuas mãos a tocar no meu corpo
Amo-te com os teus defeitos, não sou perfeita
Vieste como a brisa mar eu quero beijar-te
E levar-te ao céu sentir o teu calor
Amar-te é entregar-me de corpo e alma
Tu és fascinante é quero perder-me em ti amor
Quero beijar-te a noite toda e sem pressa
Sentir o sabor da tua boca, querer sentir
O teu corpo e o meu estremecer de prazer de amor.
ENTRE A PELE E A MEIA ( Paulo Sérgio Rosseto )
Serena seda que recobre a perna
Encanta os poros, esperta os olhos
Aveluda o tato, arrepia a penugem
Traz volúpia, seda os lábios
Navalha a carne, orvalha a alma
Tanto veneno está nesta candura rara
Que divisa a faixa, apreende à teia
Reaviva as margens, festeja as bordas
Margeia a taça, absorve a brisa
Rosa macia de pétala farta
Amordaça o senso, incandeia
Magna estrofe, carinhosa vasta
Mansa e plácida cheirosa lua
Tens a malícia sedenta exposta
Da serena vontade de mergulhar às cegas
Na onda abrupta entre o mar secreto
E a enxurrada arrítmica da vaga nua
GOSTO DAS MULHERES QUE ENVELHECEM ( Nuno Júdice )
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
DESEJO PRIMEIRO ( Sérgio Jockyman )
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.
A HORA DA PARTIDA ( Sophia de Mello Breyner Andresen )
A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
RETRATO ( Luís Miguel Nava )
A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
novembro 21, 2023
PEQUENO SANGUE ( Maria F. Roldão )
Dou sangue ao vestido.
NUDEZ ( Maria F. Roldão )
Pelo eixo central do roupão
novembro 18, 2023
António Mega Ferreira in "Os Princípios do Fim"
Esquece-te de mim, Amor,
novembro 12, 2023
CARÊNCIA, TESÃO E AFETO ( Sara Costa )
quero encontrar uma dádiva
EVANGELHO SEGUNDO O PECADOR ( Milena Martins Moura )
me quero aberta em cálice e vinho e pão
SE ( Alice Ruiz )
Se por acaso
POEMA COMEÇADO DO FIM (Adélia Prado)
Um corpo quer outro corpo.
ROSA BRANCA AO PEITO (António Gedeão)
Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.
POEMA DO AMOR ( ANTÓNIO GEDEÃO )
Este é o poema do amor.
novembro 08, 2023
ALICE VIEIRA, in OLHA-ME COMO QUEM CHOVE
Estendo na cama o corpo que há-de ser
novembro 06, 2023
SACODE AS NUVENS (Sophia de Mello Breyner Andresen)
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
novembro 05, 2023
Pedro Homem de Mello, in “Segredo”
Para te amar ensaiei os meus lábios…
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios!
Para tocar-te ensaiei os meus dedos…
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silêncio…
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
E a vida foi passando, foi passando…
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.
A vida foi passando, foi passando…
E nunca mais vieste!