quero encontrar uma dádiva
outra qualquer, um balancê
harmônico em que a falta
me complete até ser plena
mente eu
quero despir-me de todas frustrações
mundanas e febris, alavancas
do desânimo
e da solidão quente
enquanto ritmos me perturbam o sono,
carícias lambem-me o estômago
à espreita de um novo ontem,
a ansiedade me convida para dançar
e eu que aprecio deslizar,
sigo indefesa e consciente
do espiral por vir
hoje e amanhã
e talvez depois
disso eu seja completa
mente eu
mas enquanto isso, sigo
sendo humana e imperfeita
surda aos meus instintos
insisto em fazer valer
máximas que não são minhas
contorço as carências em
pequenas caixas escuras
desejo ser mais que uma
e estar a todo instante
satisfeita, e é nessa ausência
que busco o outro lado da montanha
em um processo de autocrítica
destilo amarguras e melancólica
lamento-me da vida
[que culpa ela tem?]
meu medo de colocar-me
no mundo, me afasta de mim
e o sangue desse sofrimento
rega minhas verdades dúbias
ser vulnerável à fogo e ferro,
de que vale? fantasiar seus gestos
me rende mil sorrisos
seu nome é o murmúrio
que reza meu coração
antes de dormir
em um ciclo de afetos
um rugido me rompe
o útero, e quero mais de ti
quero mais de mim
quero fundição, leve e sólida
quero carinho no braço,
dançar no azul e percorrer
as suas costas com a minha
língua
quero aceitar que essa lacuna
de ser, aqui sempre estará
e nessa ânsia de não ser