Seguidores

fevereiro 26, 2023

(Paulo Leminski - Toda Poesia)

 Eu

tão isósceles
você
ângulo
hipóteses
sobre o meu tesão
teses
sínteses
antíteses
vê bem onde pises
pode ser meu coração.

fevereiro 22, 2023

LEMBRA DE MIM ( Ivan Lins & Vítor Martins )


Lembra de mim
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz

Lembra de mim
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás

Lembra de mim
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar



fevereiro 19, 2023

AS PALAVRAS ( Rosa Lobato De Faria )

 AS PALAVRAS

De manhã são de terra
as palavras que trago sobre a língua.
Sabem a trigo
ao sangue dos morangos
ao caule das papoilas.
Dizem coisas morenas e germinam.
São de terra. As palavras.
À tarde são de vento
e flutuam na seda das bandeiras
e deslizam na solidão das águias
e adejam no limiar dos plátanos.
Desabridas desatam véus e medos
e porque são de vento
constroem catedrais e tecem barcos.
Fazem bater janelas do lado do poente
por onde espreita
a ponta de marfim da lua nova.
Depois são música nos teus cabelos de harpa
E desfloram lilases.
Mas à noite são água.
As palavras são água.
Procuram os teus olhos enfeitados de estrelas
e salpicam safiras e matizes
no teu corpo de fonte.
Dizem regato e cantam.
São cântaros no poial da entrada
onde bebem as tuas mãos vagabundas.
Beijo a beijo
pus pérolas de chuva nos teus ombros.
E as palavras escorrem sendo água
na cachoeira azul-escura da noite.
Embalam sendo lago
Gestos caídos da margem
e vogam na fluidez do sono.
As palavras da noite, gota a gota
Orvalhando o silêncio
(redondo, o húmido coração do silêncio).
E devagar, na espuma do desejo
Acordam naus submersas. As palavras.
E correm sendo rio
na promessa de serem amanhã
de novo terra. E trigo.
Mas agora são mar.
Vem marear comigo.

fevereiro 18, 2023

AMOR É TEU OLHAR QUE SOBE ( Armindo Trevisan )


           
Amor é teu olhar que sobe
e desce torna a subir ao ramo 

desce ao poço detém-se
na água porque a sede avança

e torna a subir em carícia 

pelo braço compraz-se
em resvalar pelo declive

do corpo em balanço 

como o movimento de um
pêndulo e assim nunca
sabes se o caminho 

para ele é ascensão
ou simplesmente espera
sobre um trilho de pedras 

mais do que uma ideia
sentimento porque

o subir e o descer crescem 

na viagem indiferentes
ao amor até que a ames
como se nunca a tivesses 

conhecido somente
fora de teu alcance. 

 

POR MARIA TEREZA HORTA


MODO DE AMAR - I 


Lambe-me as seios
desmancha-me a loucura



usa-me as coxas
devasta-me o umbigo



abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros



e lentamente faz o que te digo:



MODO DE AMAR - II 



Por-me-ás de borco,
assim inclinada...



a nuca a descoberto,
o corpo em movimento...



a testa a tocar
a almofada,
que os cabelos afloram,
tempo a tempo...



Por-me-ás de borco;
Digo:
ajoelhada...



as pernas longas
firmadas no lençol...



e não há nada, meu amor,
já nada, que não façamos como quem consome...



(Por-me-ás de borco,
assim inclinada...



os meus seios pendentes
nas tuas mãos fechadas.)



MODO DE AMAR - III 



É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu



Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu



MODO DE AMAR  -IV



Encostada de costas
ao teu peito



em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado



ambos de pé
formando lentos gestos



as sombras brandas
tombadas no soalho


MODO DE AMAR - V



Docemente amor
ainda docemente



o tacto é pouco
e curvo sob os lábios



e se um anel no corpo
é saliente
digamos que é da pedra
em que se rasga



Opala enorme
e morna
tão fremente



dália suposta
sob o calor da carne



lábios cedidos
de pétalas dormentes



Louca ametista
com odores de tarde



Avidamente amor
com desespero e calma



as mãos subindo
pela cintura dada
aos dedos puros
numa aridez de praia
que a curvam loucos até ao chão da sala



Ferozmente amor
com torpidez e raiva



as ancas descendo como cabras
tão estreitas e duras
que desarmam
a tepidez das minhas
que se abrem



E logo os ombros
descaem
e os cabelos



desfalecem as coxas que retomam
das tuas
o pecado
e o vencê-lo
em cada movimento em que se domam



Suavemente amor
agora velozmente



os rins suspensos
os pulsos
e as espáduas



o ventre erecto
enquanto vai crescendo
planta viva entre as minhas nádegas



MODO DE AMAR - VI 



Inclina os ombros
e deixa
que as minhas mãos avancem
na branda madeira



Na densa madeixa do teu ventre



Deixa
que te entreabra as pernas
docemente



MODO DE AMAR - VII 



Secreto o nó na curva
do meu espasmo



E o cume mais claro
dos joelhos
que desdobrados jorram dos espelhos



ou dos teus ombros os meus:
flancos
na luz de maio



MODO DE AMAR - VIII 



Que macias as pernas
na penumbra



e as ancas
subidas
nos dedos que as desviam



Entreabro devagar
a fenda – o fundo
a febre
dos meus lábios



e a tua língua
Vagarosa:



toma – morde
lambe
essa humidade esguia



MODO DE AMAR - IX 



Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas



o ar estagnado
que se estende
no quarto



As pernas que se deitam
ao comprido
sob as pernas



E sobre as pernas vencem o gemido



Flor nascida no vagar do quart

MODO DE AMAR - X 




A praia da memória
a sulcos feita
a partir da cintura:



a boca
os ombros



na tua mansa língua que caminha
a abrir-me devagar
a pouco e pouco



Globo onde a sede
se eterniza
Piscina onde o tempo se desmancha
a anca repousada
que inclinas
as pernas retezadas que levantas



E logo
são os dentes que limitam



mas logo
estão os labios que adormentam
no quente retomar de uma saliva
que me penetra em vácuo
até ao ventre



o vínculo do vento
a vastidão do tempo



o vício dos dedos
no cabelo



E o rigor dos corpos
que já esquece
na mais lenta maneira de vencê-los



MODO DE AMAR - XI 
((Teu) Baixo ventre)



Nunca adormece a boca no
teu peito



a minha boca no teu baixo
ventre
a beber devagar o que é
desfeito



MODO DE AMAR - XII 
(Os testiculos)



Tenho nas mãos
teus testiculos
e a boca já tão perto



que deles te sinto
o vício
num gosto de vinho aberto



MODO DE AMAR - XIII 
(As pedras – As pernas)



São as pedras
meus seios
São as pernas



pele e brandura
no interior dos
lábios



rosa de leite
que sobe devagar
na doce pedra
do muco dos meus lábios



São as pedras
meus seios
São as pernas



Pêssegos nus corpo
descascados



Saliva acesa
que a língua vai cedendo



o gozo em cima...
na pedra dos meus
lábios



Jogo do corpo
a roçar o tempo
que já passado só se de memória,
a mão dolente
como quem masturba entre os joelhos...
uma longa história...



Estrada ocupada
onde se vislumbra
(joelhos desviados na almofada )



assim aberta o fim de que desfruta
o fruto do odor
o fundo todo
do corpo já fechado.



MODO DE AMAR - XIV 
(As rosas nos joelhos)



São grinaldas de rosas
à roda
dos joelhos



O âmbar dos teus dentes
nos sentidos



O templo da boca
no côncavo do espelho
onde o meu corpo espia
os teus gemidos



É o gomo depois...
e em seguida a polpa...



o penetrar do dedo...
O punho do punhal



que na carne enterras
docemente
como quem adormenta
o que é fatal



É a urze debaixo
e o fogo que acalenta
o peixe
que desliza no umbigo



piscina funda
na boca mais sedenta bordada a cuspo
na pele do umbigo



E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre



que vai vencendo
as rosas – os escolhos
à roda dos joelhos, docemente.



MODO DE AMAR - XV 
(A boca – A rosa)



Entreabre-se a boca
na saliva da rosa



no raso da fenda
na fissura das pernas



Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta



E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas



que aí se entre-curva
se afunda
se perde



se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas.