I
Ai, que translúcido te fazes
Que maravilha teus ares
Ai, bem-querer de mim!
Tu
Nos teus palanquins do alto
Olhando-me tão ferida
Tão mula velha
Tão carne de despedida
Tão ossos
Tão tudo que regozija
Tua garganta de brisa!
Vem. Engole-me inteira
No teu exílio de esteiras!
II
Barganha-me nas feiras
Em proveito Teu:
Mula que se fez musa
(Porque deitou com Deus)
Na grande noite escura
Do Teu riso.
III
No teu leiro de lírios
Lambe-me o pelo
Agora reluzente.
De remansos de zelo.
Devolve-me a cabeça
(Pois mula que sou
E deitada com o Pai
Isso talvez se faça ou aconteça)
Rodeia-a de rosas
Como os humanos fazem
À guisa de louros
Com os seus mais preclaros.
Barganha-me nas feiras
Em proveito Teu:
Mula que se fez musa
(Porque deitou com Deus)
Na grande noite escura