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maio 28, 2020

OLHOS COR DE MEL (Joel Gallinati Heim)

OLHOS COR DE MEL (Joel Gallinati Heim)
Teus olhos cor de mel
Brilhando de luz delicada
Senti teu desejo por mim
Provei dos teus lábios
Sabor de pecado e prazer
Devagar fui te descobrindo
Na maciez de tua pele
Passeei por seus belos seios
Senti tuas coxas e pernas
De encontro às minhas
Com carícias tensas
Aos poucos fui te descobrindo
Teu sexo úmido procurado
Por meu sexo duro de desejo
E no abismo entre tuas coxas
Quente a deslizar enfiei
Minha lança dura de prazer
Gemias sob os beijos gemias
E a me espremer ias mexendo
Quadris e sexo em ritmo lento
Minha lança agora prisioneira
O gozo pleno, veio em ondas
Senti teu grito no meu sexo
Explodi em jorros de prazer
Inundando tuas entranhas
Eu esvaído em gozo lá no fundo
Meu doce leite inundava
Tua fenda rósea, escorrendo-te
Entre as coxas, branco sêmen.

VOLÚPIA (Flora Figueiredo)

VOLÚPIA (Flora Figueiredo)
Hoje, preciso de um poema, mais do que nunca.
Que ele seja vitaminado,
tufão e ventania,
clarão e meio-dia,
açúcar e flor-de-maçã.
Que ele traga o cheiro de manhã molhada,
as virilhas úmidas,
o sangue em brasa.
Que lambuze com rimas minha casa,
as veias, a pele,
este coração inoperante.
Hoje, preciso mais do que nunca de um poema
de boca molhada e verso latejante.

ATRAÇÃO (Flora Figueiredo)

ATRAÇÃO (Flora Figueiredo)
Uma proposta que arrepia-me os pelos
e me põe à mostra.
Uma proposta que escorre quente
como serpente fluida pelas minhas costas.
Uma proposta de mel e salitre
que por mais que eu evite,
minha pele gosta.

KIT (Flora Figueiredo)

KIT (Flora Figueiredo)
Trouxe para você
um kit ternura.
Vem composto
de um beijo molhado e aquecido
no ponto ideal.
Para não causar resfriado
nem queimadura de terceiro grau.
Uma mordiscada
para ser usada por perto da nuca,
de preferência sempre perfumada;
um sussurro na orelha,
no lado de trás,
onde o arrepio se satisfaz;
um abraço tão justo, tão justo,
que o coração pode levar um susto
com medo de ser atropelado;
um carinho tão preciso
que lhe faça desvestir o juízo,
e de tal habilidade,
que, a cada recaída minha
de infidelidade,
possa servir como abono.
Um aviso
para ser colado à testa
e em toda fresta que você tiver:
“Tem dono.”

LEITE MOÇA ( Flora Figueiredo )

LEITE MOÇA (Flora Figueiredo)
Aqui que ninguém nos ouça,
ela leva na bolsa
um vidro de desejo comprimido,
rotulado de candura.
Tampado pela censura,
pela Sé,
pelo marido.
Se a rolha cair
e o frasco entornar,
o pecado vai se divertir...
Deve vazar um caldo de ponto apurado
do muito tempo que ficou guardado,
que açucarou depois de pronto.
Vai correr leite de desejo condensado.

FODA (Charles Bukowski)

FODA (Charles Bukowski)
ela tirou o vestido
por sobre a cabeça
e eu vi a calcinha
um tanto enterrada em suas
carnes.
é simplesmente humano.
agora teremos que fazê-lo.
eu terei que fazê-lo
depois de todo esse logro.
é como uma festa –
dois idiotas
numa cilada.
debaixo dos lençóis
depois que apaguei
as luzes
suas calcinhas ainda estavam
ali. ela esperava um
número introdutório.
eu não podia culpá-la. mas sim
me perguntar por que ela estava ali
comigo? onde estão os outros
caras? como você pode se julgar
sortudo tendo alguém que
outros abandonaram?

não precisávamos fazer aquilo
embora tivéssemos que fazê-lo
era algo como
renovar o crédito
com o homem do imposto de
renda. tirei a calcinha.
decidi não usar
a língua. ainda assim
pensava no momento
em que tudo estivesse terminado.

dormiremos juntos
esta noite
tentando nos acomodar
entre os papéis de parede.
tento, falho,
reparo no cabelo em sua
cabeça
mais do que tudo reparo no cabelo
em sua
cabeça
e de relance em
suas narinas
de porquinho
tento
novamente.

VÍDEO: HOJE O DIA AMANHECEU NUBLADO - JENNYFER ROSA

VÍDEO: ADEUS - EUGÊNIO DE ANDRADE

VÍDEO: OLHOS DE RESSACA (DOM CASMURRO) - MACHADO DE ASSIS

como você faz para deixar
meu fogo selvagem
tão suave que acabo virando
água corrente
(Rupir Kaur)
quero que suas mãos
segurem
não minhas mãos
que seus lábios
beijem
não meus lábios
mas outros lugares
(Rupir Kaur)
você deve ter notado
que estava enganado
quando seus dedos estavam
enfiados em mim
procurando o mel que
não jorraria por você
(Rupi Kaur)
você coloca minha mão
entre minhas pernas
e fala
faça esses dedinhos lindos dançarem pra mim
- performance solo
(Rupi  Kaur)
ele tocou
meu pensamento
antes de chegar
à minha cintura
meu quadril
ou minha boca
ele não disse que eu era
bonita de primeira
ele disse que eu era
extraordinária
- como ele me toca
(Rupir Kaur)
só de pensar em você
minhas pernas abrem espacate
como um cavalete com uma tela
implorando por arte
(Rupir Kaur)

VÍDEO: COMO SER UM GRANDE ESCRITOR - CHARLES BUKOWSKI


VÍDEO: ODE AO GATO - PABLO NERUDA


VÍDEO: LOLITA (trecho) - VLADIMIR NABOKOV


VÍDEO: QUEM TEM MEDO DE BOCETA? - CAROLINA TORRES


VÍDEO: VELHA HISTÓRIA - MÁRIO QUINTANA


VÍDEO: DO DESEJO - HILDA HILST


VÍDEO: SE EU FOSSE EU - CLARICE LISPECTOR


VÍDEO: A ARTE DE PERDER - ELIZABETH BISHOP


maio 24, 2020

EM TEU CRESPO JARDIM ( Carlos Drummond De Andrade )

em teu crespo jardim,
anêmonas castanhas
Em teu crespo jardim, anêmonas castanhas
detêm a mão ansiosa: Devagar.
Cada pétala ou sépala seja lentamente
acariciada, céu; e a vista pouse,
beijo abstrato, antes do beijo ritual,
na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado.
(Carlos Drummond de Andrade)
A BELA NINFEIA FOI ASSIM TÃO BELA (Carlos Drummond de Andrade)
A bela Ninfeia foi assim tão bela
como eu a fazia, se sonho ou me lembro?
Em sua garupa de água ou de égua
que formas traçava, criava meu membro?
A dura Ninfeia de encantos furtivos
preparava filtros? Que feitiço havia
na pinta da anca, pois só de beijá-la
a pinta castanha logo alvorecia?
A fria Ninfeia zombava talvez
da fúria, da fome, do fausto, da festa
que o seio pequeno, de bico empinado,
em mim despertava, tigre na floresta?
A vaga Ninfeia, de esparsos amores,
(o meu, entre muitos) teria noção
do mal que me fez, ou por ela me fiz,
pois que meu algoz era minha criação?
ERA BOM ALISAR SEU TRASEIRO MARMÓREO(Carlos Drummond de Andrade)
Era bom alisar seu traseiro marmóreo
e nele soletrar meu destino completo:
paixão, volúpia, dor, vida e morte beijando-se
em alvos esponsais numa curva infinita.
Era amargo sentir em seu frio traseiro
a cor de outro final, a esférica renúncia
a toda aspiração de amá-la de outra forma.
Só a bunda existia, o resto era miragem.
EU SOFRIA QUANDO ELA ME DIZIA (Carlos Drummond de Andrade)
Eu sofria quando ela me dizia: “Que tem a ver com as calças, meu querido?”
Vitória,Imperatriz, reinava sobre os costumes do mundo anestesiado
e havia palavras impublicáveis.
As cópulas se desenrolavam — baixinho — no escuro da mata do quarto
fechado.
A mulher era muda no orgasmo. “Que tem a ver...” Como podem lábios
donzelos
mover-se, desdenhosos, para emitir com tamanha naturalidade
o asqueroso monossílabo? a tal ponto
que, abrindo-se, pareciam tomar a forma arredondada de um ânus.
A noite era maldormida. A amada vestida de fezes
puxava-me, eu fugia, mãos de trampa escorregante
acarinhavam-me o rosto. O pesadelo fedia-me no peito.
O nojo do substantivo — foi há trint’anos —
ao sol de hoje se derrete. Nádegas aparecem
em anúncios, ruas, ônibus, tevês.
O corpo soltou-se. A luz do dia saúda-o,
nudez conquistada, proclamada.
Estuda-se nova geografia.
Canais implícitos, adianta nomeá-los? esperam o beijo
do consumidor-amante, língua e membro exploradores.
E a língua vai osculando a castanha clitórida,
a penumbra retal.
A amada quer expressamente falar e gozar
gozar e falar
vocábulos antes proibidos
e a volúpia do vocábulo emoldura a sagrada volúpia.
Assim o amor ganha o impacto dos fonemas certos
no momento certo, entre uivos e gritos litúrgicos,
quando a língua é falo, e verbo a vulva,

e as aberturas do corpo, abismos lexicais onde se restaura
a face intemporal de Eros,
na exaltação de erecta divindade
em seus templos cavernames de desde o começo das eras
quando cinza e vergonha ainda não haviam corroído a inocência de viver.
À MEIA-NOITE, PELO TELEFONE(Carlos Drummond de Andrade)
À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do seu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
“Se você não vem depressa até aqui,
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até o amanhecer?”
Concordo, calo-me.
SUGAR E SER SUGADO PELO AMOR (Carlos Drummond de Andrade)
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.
TRÊS NÚMEROS DE MÁGICA (Leila Miccolis)
O espetáculo começa:
faço sair da cartola
televisão a cores,
automóveis,
e imóveis no Leme
a pagar em 180 prestações.
Depois te serro ao meio no caixão,
para salvar-te a seguir:
surges inteiro e pareces tão ileso
que nem dá para notar a castração.
Por último me cubro – abracadabra! –
e volto aos tempos de menina,
tirando da vagina objetos contundentes
que fizeram a minha vida
e o meu hímen complacentes.
BUSTO RENASCENTISTA (Antonio Carlos de Brito)
quem vê minha namorada vestida
nem de longe imagina o corpo que ela tem
sua barriga é a praça onde guerreiros se reconciliam
delicadamente seus seios narram façanhas inenarráveis
em versos como estes e quem
diria ser possuidora de tão belas omoplatas?
feliz de mim que frequento amiúde e quando posso
a boceta dela

* * * *
Jamais esquecerei as maneiras
de minha ex-namorada
remava rio acima com a leveza de quem
descia a favor da correnteza
seu sorriso confundia a direção dos cachorros
que viajam com as cabeças para o abismo
seu corpo jamais soube distinguir entre
a primavera e o outono
quando penso no futuro me transformo
no passado de minha ex-namorada
FATALIDADE (Antonio Carlos de Brito)
A mulher madura viceja
nos seios de treze anos de certa menina morena.
Amantes fidelíssimos se matarão em duelo
crepúsculos desfilarão em posição de sentido
o sol será destronado e durante séculos violas
plangentes
farão assembleias de emergência.
Tudo isso já vejo nuns seios arrebitados
de primeira comunhão.
seu paquera (Bruna Beber)
as omoplatas
são os seios
das costas
quando belas
que vontade
de tocar
falo isso
para registrar
as suas
que peitos
e a vontade
de tocá-los.
O AMOR (Eduardo Galeano)
Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era
estranho o que tinham entre as pernas.
– Te cortaram? – perguntou o homem.
– Não – disse ela. – Sempre fui assim.
Ele examinou-a de perto. Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta. Disse:
– Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amadurecer. Eu te curarei. Deita
na rede, e descansa.
Ela obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e se deixou aplicar as pomadas e os
unguentos. Tinha de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
– Não te preocupes.
Ela gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum, estendida em uma rede.
A memória das frutas enchia sua boca de água.
Uma tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
– Encontrei! Encontrei!
Acabava de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
– É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que
jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta a formosura que os sóis e os
deuses morriam de vergonha.
BEIJO (Mia Couto)
Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.
LEOA (Mia Couto)
A leoa me fita.
Seu olhar é um ventre.
E nele volto a nascer.
No incêndio de uns olhos
me entrego a ocultas divindades.
E a mim mesmo caço,
escravo de quem me dá fim.
Na felina sofreguidão me devoro.
E aos despedaços
me arranco de mim
para seus olhos solares.
Essa morte anseio:
ausência perfeita,
alma de regresso ao inumano.
Vem do fogo
o meu único descanso.
Noite de Natal.
Estou bonita que é um desperdício.
Não sinto nada
Não sinto nada, mamãe
Esqueci
Menti de dia
Antigamente eu sabia escrever
Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída com desvelo técnico.
Freud e eu brigamos muito.
Irene no céu desmente: deixou de
trepar aos 45 anos
Entretanto sou moça
estreando um bico fino que anda feio,
pisa mais que deve,
me leva indesejável pra perto das
botas pretas
pudera
(Ana Cristina César)

SAMBA-CANÇÃO (Ana Cristina César)


Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz...
ANÔNIMO (Ana Cristina César)
Sou linda; gostosa; quando no cinema você roça o ombro em mim aquece,
escorre, já não sei mais quem desejo, que me assa viva, comendo coalhada ou
atenta ao buço deles, que ternura inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no
cinema é escuro e a tela não importa, só o lado, o quente lateral, o mínimo pavio.
A portadora deste sabe onde me encontro até de olhos fechados; falo pouco;
encontre; esquina de Concentração com Difusão, lado esquerdo de quem vem,
jornal na mão, discreta.