LEOA (Mia Couto)
A leoa me fita.
Seu olhar é um ventre.
E nele volto a nascer.
No incêndio de uns olhos
me entrego a ocultas divindades.
E a mim mesmo caço,
escravo de quem me dá fim.
Na felina sofreguidão me devoro.
E aos despedaços
me arranco de mim
para seus olhos solares.
Essa morte anseio:
ausência perfeita,
alma de regresso ao inumano.
Vem do fogo
o meu único descanso.