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março 26, 2023

By Fátima Guimarães

 Lateja-me nos dedos cada prega do teu corpo

Na pele nua a maciez da tua pele
No corpo inunda-me a quentura da tua seiva

A lua está linda, resplandecente
mas para quê a lua se nos lábios
persiste a ternura de uma gota de orvalho

Deliciada fecho os olhos
Deixo a minha mão escorregar
pelo teu corpo macio
Adormeço.



 

Sou-te Ninho ( Fátima Guimarães )

 No teu rosto

repousa a madrugada
de fatigados pássaros

Poisas a cabeça
no meu peito
onde ainda há pouco
o vento cantava

e os meus seios eram eco
de teus incontidos desejos

Sou-te ninho.


Célia Moura, in No Hálito De Afrodite

 Amei-te

Abrindo-me mais que o linho entre as pernas
Mais que a alma rasgada
Entre todos os poemas.

Sentia-te carne de mim
Essência de jasmim
Na erecção da tua ânsia
Brindando êxtase de chocolate
Na íris de Afrodite
Percorrendo enseadas de nós.

Amei-te tanto
Que julguei esquecer-me!

Reinvento-me
Na força com que me despes
Silêncio
Devora de vez esse teu desejo!
Abro para ti minhas pernas!



 

Natália Correia, in Dimensão Encontrada

 Há noites que são feitas dos meus braços

E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exatidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.





 

Sete Motivos Do Corpo ( Natália Correia )

 Quando em halo de fêmea húmida e quente

São íntimas ao fogo as ancas sábias,
Está o corpo maduro no seu tempo
Aromático de rosas esmagadas.

São as Circes: fogueiras reclinadas
Como panteras em nuvens de magnólias;
Coxas versadas em abrir às lavas
Do desejo confins de lassas glórias.

Do amor, lúcida e plena anatomia;
Magníficas mulheres com flor e fruto;
Corpos de vagarosa fantasia
Que a febre afunda em estrelas de veludo.

Num esplendor de poentes envolvidas,
Sentadas têm pálpebras de violetas;
Mas erguem-se abrasadas; e despidas
São um verão a sair de meias pretas.

Capelines que lendas insinuam,
De segredos os olhos lhes sombreiam.
Dos ombros pendem-lhes mantos de volúpias
São fábulas que os moços estonteiam.

E aos seus leitos de prata e tílias altas
Ébrios de lua sobem os mancebos.
Elas enterram-se nuas como espadas
Nas suas virilhas e armam-nos cavaleiros.
Ó sazonada carne que circunda
De asas, abismos e suados cumes
O mistério do ovo, dando sombra
Ao pénis que procura o fim do mundo.


Albano Martins, in Escrito A Vermelho

 Quando a amada oferece

o seu corpo, ela sabe
que dos frutos apenas
se colhe o sabor.
É então
que os dedos
separam as películas,
que a lâmina desce e a água
e o fogo se misturam.
E é então que a vida
e a morte convivem
sob o mesmo tecto.


Alexandra Santos, in Palavras Sussurradas

Passeio as mãos pelo teu corpo e sinto-te
Sinto o pulsar do teu coração que bate desenfreado
Sinto a tua respiração num ritmo descontrolado
Sinto que queres ser minha como eu ser teu
Sinto que és a rainha deste plebeu
Mas sinto essencialmente a tua pele
Toda ela é a tua essência
Toda ela é a mulher que foste,
A mulher que és, a mulher que amo:
Pele madura, vivida,
Repleta de marcas do tempo,
Perfeita para mim;
Pele suave, sensível,
Propensa a arrepios,
Beijada até ao fim
Pele é tua é minha é nossa
Onde a tua termina, a minha começa
Quando a tua sente frio, a minha te aquece
Quando a tua sente ardor, a minha te arrefece
Não preciso de mapa para me orientar
Mas na tua pele ainda me posso perder
Em cada cicatriz, em cada recanto,
Em cada sinal, em cada encanto
Pele com pele, eu sinto o teu aroma
Pele com pele, o nosso único idioma.


 


Parto Com Os Ventos ( Lília Tavares )

 Esta noite é líquida

nos meus olhos esvaziados
de rumores e saudade.
Fixo o farol e a luz
da vida cúmplice.

Como as gaivotas parto
e regresso
porque este areal é meu.

Nem os búzios perdidos
nas águas profundas me podem
chamar com cânticos e brilhos.

Sou ilha e barco,
tu a margem que espera.

Parto com os ventos.

Sei de uma ilha de ventos
onde os pássaros azuis
da solidão fazem festins
no oceano das águas velozes.
Fiquei na orla branca das ondas,
noveladas como búzios deslumbrados.
Estendida entre brumas
preciso desse silêncio,
das asas abertas do afastamento
de luas desveladas.

o meu olhar de tanto mar
fixou-se numa nuvem de vento.
Dispo-me de gaivotas
quando é o teu olhar com asas
que me solta e agarra,
pois dois sentidos moram
para além de nós,
nos habitam e esperam
sentados aos tropeções
dentro dos nossos corpos.
São aves de muitas ondas,
as que nos beijam.
A hora chegou com o seu gume.
Amor,
volto a partir com os ventos.

Estas horas
sulcam rios
nos dedos das minhas mãos.
Horas, horas sem fim,
esperarei por ti
até que o mar me traga a tua voz
ou os gritos roucos das gaivotas
me tragam o silêncio desta ilha
tornada espera.
Procuro-te no fim negro do asfalto
onde te vi desaparecer,
após a calma dos objectos partilhados
no balbuciar dos nossos dedos
Horas, horas sem fim,
serei banco de madeira
ou cais de espera.


CHOVO ( Lília Tavares )

Chovo
sentada dentro de mim.
Foste e contigo a tua pele
que me secava as lágrimas de silêncio.
Contigo foram as mãos, o abraço,
o beijo lavado e inteiro.
Da minha gruta já é doloroso sair.
Os meus olhos, outrora largos,
apertam-se para fugir à chama agressiva.
Estou fria e desabitada.
Vem.
Aqui o tempo partiu do tempo.
Só tu podes consertar os ponteiros despedaçados da
memória.
Contigo os ventos virão
e as aves que tinham desistido,
vão nidificar de novo no meu colo.


 


março 22, 2023

TEMPO DE POESIA ( António Gedeão )

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã

à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre

à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.

Corolas que se desdobram.

Corpos que em sangue soçobram.

Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria

das mãos que pedem vingança.

Sob o arco da aliança

da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos

à confusão da harmonia.


março 19, 2023

EU VIM DO FUTURO E LÁ SÓ TEM SAPATÃO(Banda Horrorosas Desprezíveis)

Eu vim do futuro e lá só tem sapatão

Nada é tão nocivo quanto os bons costumes
Cansei de ver portas arrombadas
O meu corpo não será mais programado
Os meus peitos ficarão à mostra
Meus pêlos ficaram à mostra
Sintam, isso é o meu cheiro!
Avante, avante avante
somos heroínas
Avante, avante, avante América Latina
Não seremos estupradas, queimadas e nem navalhadas pelo bisturi
Fecundou-se
Dividiu-se
Desdobrou-se
Entre as pernas a maçã partida
Gomo suculento
O líquido que se faz cálice
O membro invertido
O melado vermelho que escorre
A buceta é cuceta
a cuceta é dentada
Ela é terrorista!
Eu vim do futuro e lá só tem sapatão
Não há mais deus
Somos deusas somos muitas e somos fortes
O fogo que arde em meu centro me impulsiona e me leva ao céu
Torno-me astronauta do cosmo
Eu refaço o big bang
Recrio o meu universo
Mexo os pauzinhos do tempo
Levantamos das catacumbas, mas não como Lázaro aquele sarnento
e sim com Cleópatra
Mulheres livres
Futuristas
Embaixadoras da grande estrela pulsante 
Eu vim do futuro e lá só tem sapatão





março 12, 2023

ESTRELA DA TARDE ( José Carlos Ary Dos Santos )

 Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia

Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

março 09, 2023

De Alice Ruiz

 Era uma vez

uma mulher que
via um futuro grandioso
para cada homem
que a tocava.
Um dia
ela se tocou.

PROVOCAÇÃO ( Yara Fers )


Hoje
eu quero adentrar
na vagina úmida
da palavra sexo.

Quero que bocas,
seios, pênis
signifiquem
exatamente o que são.
Lambê-las todas.

Hoje
não meto metáforas,
metonímias, eufemismos.
Ainda que haja
de leve
uma metalíngua,
esta poesia
apenas penetra
o literal.

Hoje
vou chupar a palavra pênis
em cada letra, pingo e gota,
até ela ficar bem feliz.

Só hoje,
nada de sutileza.
A poesia
vai dizer safadezas
em seu ouvido.
Escrever será um prazer.

E no clímax,
no ápice da palavra clítoris,
a poesia vai gozar.

E você vai gostar.


PICANTE ( Yara Fers )


Beijo
tua pétala:
tulipa púrpura.

Toco
tua penugem:
tapete de pelos púbicos.

Publico
tuas impudicas taras
inter-caladas.

Perfuro
tuas pupilas.

Páprica:
meu poema
em tua papila.

A DEMORA ( Mia Couto )

 O amor nos condena:

demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

março 05, 2023

MEU SER ( Simone Lelis )


De olhar atrevido
Sou mulher
Sou menina
Brasas de fogo
Vento de palhas
Sonho de valsa
Sou pequena
Mas grande na força do amor
Sou borboleta
Sou abelha rainha
Sou mistério
Tenho no olhar um brilho intenso
Sou uma ilha perdida
Um paraíso escondido
Tenho cheiro de relva
Sou jardim de flores
Sou proposta descente
Sou o caminho abstrato
Um enigma a desvendar
Sou devaneio
Sou romântica, boba e sincera
Sou joia cara
Sou um espelho
Sou anjo
Sou água de rio
A nascente do mar.

FOGO SOBRE FOGO ( Jorge Sousa Braga )

 O meu mamilo

no teu
mamilo

Só tu
sabes sorrir
na vertical

Gotas de orvalho
ligeiramente tingidas
de batom

Nem todos os frutos vermelhos
merecem o céu
da tua boca

Mais do que uma vez
atravessei a primavera
com os olhos fechados

A borboleta que poisou
no teu mamilo perdeu
vontade de voar

Vou ao céu
e venho-
-me

Não posso
amar
mais claro

Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia

Ainda agora em ti entrei
e já em todos os teus poros
me achei

Não é a rosas nem a violetas
nem a jasmim o cheiro
que me põe fora de mim

Qual é a minha
ou a tua
língua?

Não conheço outra
linguagem que não seja
a do orvalho

Na espessura do bosque
o que a minha mão procurava
era um mirtilo

Basta-me
o teu umbigo de vinho
para ficar bêbedo

Este fogo
que só com fogo
se pode apagar

AMAR VOCÊ É COISA DE MINUTOS ( Paulo Leminski )

 Amar você é coisa de minutos

A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui.

URGENTEMENTE ( Eugénio de Andrade )

 É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.
é urgente destruir certas palavras.
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

DESFRUTE ( Carolina Salcides )


Eu sou o fruto do teu pecado.
Cada curva
O fruto do teu desejo.
Sou a doçura da uva
O picante, o azedo.
Sou fruto da tua imaginação
Fruto da tua loucura, da tua fúria.
Sou o fruto na mão
O deleite na boca
A languidez no teu corpo
Sou fruto fluido
Fruto maduro
Fruto proibido.
Sou a maçã rubra lá do alto
Sou fruta gula
Tentação.
Fruta carne
Nua e crua
Fruta vontade
FrutAção.

 

SEDUÇÃO ( Cainara Biondo )


Noite enluarada, neblina densa.
Transforma a paixão ardente que circula entre as veias,
Fazendo pulsar um coração em fúria;
Permitindo viajar em um mundo imaginário fantástico,
Mergulhando em um rio de fantasias apimentadas;

Mistura de sentimento e desejo;
Realidade e fantasia;
Dois corpos entrelaçados se envolvem,
Encaixa-se, completam-se
Tornando cada momento único e inesquecível,
Em meio aos abraços e beijos, o desejo flora;

Aquece, decola, sem juízo.
Declarações e promessas são ditas sem precisão
Voluntariadas da hora,
Corpos suados, mãos escorregadias afagam os corpos,
Sem direção, mas com precisão;
Em meio à loucura, surgem gemidos,

Ao pé do ouvido, causando calafrios;
Satisfação incomparável
Resultado de uma atração física e emocional
Que torna duas pessoas por segundos únicas
Dois corpos, que se permitem em ser um;
A arte da sedução vai muito além da imaginação.

ADOCICADA ( Jussara Alves )


Sedução, ingênua sedução
Transmitida num olhar
Cabreiro e resistente
Num piscar de olhos
Nem sempre intensional
Numa respiração leve
Ou ofegante
Num entreabrir de lábios
Num mordiscar dos mesmos
No retoque do batom
No salivar
Num abrir de poros
Num exalar de perfume
Numa transpiração de desejo
Secreto desejo tão percebido
No ruborizar da pele
Na contração dos músculos
Num levantar de ombros
No acariciar os cabelos
No mordiscar as unhas
No sugar dos dedos
Num cruzar de pernas
No seu descruzar
Nos pensamentos mais quentes
Secretos pensamentos
Tão percebidos.

De Wanda Ayala

Rendo-me aos teus carinhos
Aos teus beijos que me despertam o capricho
De ter-te com volúpia e prazer
De no amanhecer amar-te.


Entrego-me sem pudores
Caem os tabus e as mascaras que acompanham o dia a dia
Digo-te coisas ao ouvido, te instigo mais
A loucura e o prazer já são as únicas coisas que nos restam.

Não há o porque lembrar-se de nada
Se a chuva cai, se o sol já não brilha
O mundo explode em cores
Conquistamos o momento de êxito.

Somos agora uma única inspiração
Uma única célula a formar o universo
Nosso universo particular
Onde só é essencial o ímpeto de nossos corpos a estremecer.