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dezembro 24, 2017

BOLA DE MEIA, BOLA DE GUDE (Milton Nascimento & Fernando Brant) 
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão.

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão.

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal.

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão.

dezembro 18, 2017

PASSEIO-20 (Hilda Hilst)
De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.


dezembro 16, 2017

TIGRESA (Caetano Veloso)
Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando sua pele de ouro marrom do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel.

Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta, sem certeza, tudo que viveu
Que gostava de política em mil novecentos e setenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancing Days.

Ela me conta que era atriz e trabalhou no "Hair"
Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor.

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que um leão.

As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse não
E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento.
ECLIPSE  (Djalma Filho)
Vem
menina vadia
te darei o meu dia
te farei sol nascer.

Vem
menina moleca
te farei uma festa
te darei meu prazer.

Vem
menina dengosa
te encantarei formosa
te enfeitarei com meu ser.

Vem em ti
todas as meninas carentes
todas as mulheres santas
todos os amores proibidos
todas amantes desvairadas.

Dispa
em definitivo teus pudores
deflore toda tua nudez
que arde agora afoita
em avalanche de néctar.

Abrace-me
sem culpas nem escrúpulos
penetre nessa loucura
que arde agora ereto
vermelho a te querer.

Fique-me
em eclipse em
superposições de sois
querendo e ardendo
definitivamente nós!
 A TARADA NUM CARRO (Ana C. Pozza)
Eu não minto
Eu invento
E se tomo vinho tinto
Logo me esquento!
Quando sinto,
Eu tento.
Percorro o labirinto,
Busco o vento.
Arranco o teu cinto,
Deixo-te sedento
Aí vejo o teu pinto
E sento!

TESÃO E SONETO (Ana C. Pozza)
Enquanto segues em frente,
Deito-me maliciosa em teu leito,
Sentindo teu corpo quente:
Diante das tuas mãos, tudo aceito.

Roubas meus seios da minha roupa,
Acariciando-os com intensos beijos,
Deixando-me completamente louca,
Abrindo-se para ti a flor dos meus desejos.

Sou só desejo, sou toda tua.
Beijo-te inteiro com sofreguidão,
Enquanto deixas-me totalmente nua,

Provocando em meu corpo espasmos e gemidos,
Embalo com lambidas teu tesão

Até nos tornarmos um só em todos os sentidos!
INEBRIANTES NA DANÇA DO AMOR (Ana C. Pozza)
Minha mente é só desejo:
Minha boca clama pelo teu beijo,
Meu corpo pulsa pelo teu toque,
Meu ser estremece pelo teu olhar.

Eu sou,
inteiramente,
lua,
nua,
tua.

Desejo acima de desejo
Corpo sustentando corpo
Alma comportando alma.

Tu
infinitamente
no meu
íntimo.

Nós dois
Inebriantes
Na dança do amor
A tocar
A sentir
A gozar
Na explosão do depois.
O TATO (Arnaldo Antunes)
O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
O pinto duro pulsa forte como um coração
Trepar é o melhor remédio pra tesão
Um terço é muita penitência pra masturbação
A grávida não tem saudades da menstruação
Se não consegue fazer sexo vê televisão
Manteiga não se usa apenas pra passar no pão
Boceta não é cu mas ambos são palavrão
Gozo não significa ejaculação
O tato mais experiente é a palma da mão.

O olho enxerga o que deseja e o que não
Ouvido ouve o que deseja e o que não
Depois de ejacular espera por outra ereção
O ânus precisa de mais lubrificação
Por mais que se reprima nunca seca a secreção
O corpo não é templo, casa nem prisão
Uns comem outros fodem uns cometem outros dão
Por graça por esporte ou tara por amor ou não
Velocidade se controla com respiração
O pau se aprofunda mais conforme a posição
O tato mais experiente é a palma da mão.
GALOPE (Artur Gomes)
com espada
em riste
galopamos
pradarias
e lutamos
ferozmente
por dois segundos
e meio
tua fúria era louca
que agarrei-me
em tuas crinas
pra não cair na lama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
que quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer.
UMA MENINA (Afonso Henriques Neto)
água, tua música de pele 
e cheiro fluindo de florações 
impalpáveis, chuva acesa 
no centro do abismo, onde flutuam 
manhãs. 

terra, teus passos tua voz teus 
ruídos de amor e um gozo 
além das cordilheiras do sonho 
tecendo galáxias, vertiginosa 
raiz. 

ar, teu gesto marinho, olhos 
feitos do arremesso do mar 
e a centelha invisível a mover 
os labirintos do vento, cósmica 
serpente. 

fogo, teu corpo de medusas 
e feridas vivas, vulcões, 
planeta todo luz, talvez paixão, 
pássaro tatuado nas estrelas, 
coração.

dezembro 06, 2017

 QUERO AMAR-TE (Pedro  Sobreda)
quero amar-te
para lá das palavras 
com que fugimos conscientes
deste espaço
que parece não nos albergar.


quero amar-te
muito além da doçura
colorida
do conforto perfumado do sol 
quando se despede do dia.

quero amar-te
acima das tuas imagens
que em mim se encostam
como barco no cais 
quando a música é forma de
viajarmos 
ao encontro um do outro.

quero amar-te
de tocar
de sentir o teu
como parte do meu
cheiro.

quero amar-te
de te saber 
cada tua curva de nível
batimétrica no meu mar
oceânico.

quero amar-te
de te provar
o sabor 
de poisar o meu olhar em ti 
quando 
desperto de madrugada 
para te procurar.

quero amar-te 
porque me fazes sentido.

quero amar-te mais
porque sim.

quero amar-te 
porque te venho amando
ainda sem que existisses
e eu te esperasse 
ávido de te ter.
TE  AMO (Sônia Fátima da Conceição)
A lembrança é concreta
Teu hálito roça-me a face
O desejo afasta o ridículo
No suor o visco do esperma
Na boca o gosto
do falo
Indecentes
Tuas mãos. Tateiam meu corpo
o orgasmo varre
valores, pecados
Te amo.
QUERO SER POSSUÍDA ( Cléia Fialho)
De maneira ilimitada
ser seduzida e amada
de emoção entorpecida
ser tomada e preenchida
por uma paixão tempestuosa
ser apoderada e invadida
por um amor tresloucado
ser penetrada e consumida
por um sexo desregrado
assim eu quero ser possuída!

dezembro 03, 2017

ÍNTIMO VÉU (Miriam Alves)
Arregaço o ventre
corcoveio no ar
gemo
Você?
Tira o meu último véu.
CEREJAS, MEU AMOR (Renata Pallotini)
Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas.
ESTRANHO  FURTO (Ruth Souza Saleme)
Na noite silenciosa e azulada
No pousar do orvalho sobre as ramagens,
Durante o repouso sereno das aves
E no desabrochar das damas da noite,
Quero roubar teus sentidos a mão armada,
Assaltar teu corpo e recolher teus sentimentos,
Como larápia discípula de Cupido!
Quero pegar-te desarmado
Numa hora qualquer desta noite.
Amanhã, não importa!
Quero que teu coração se surpreenda,
Se assuste e me prenda em teus afetos.
Depois, no calabouço dos gemidos,
O tilintar das correntes partindo
No auge dos apertos e abraços sôfregos.
Passarei a vida na cadeia das quimeras,
E nas grades deste grande amor,
Narrando a história de um estranho furto,
Entre um homem tímido e uma mulher apaixonada.
FÊMEA (Regina Bello)
Formas curvas
Carne quente
Sedutora
Misteriosa mulher.

Aconchegante
encontra cara a cara
o menino homem
Indefeso
Embriagado
Subjugado
pelos múltiplos lábios
da volúpia.

PLENA NUDEZ (Raimundo Correia)


Eu amo os gregos tipos de escultura:
Pagãs nuas no mármore entalhadas;
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas.

Não quero, a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
De transparente túnica através:

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!
AMOR PROIBIDO (Rafael do Nascimento Monteiro)
Só quem viveu entende
Amor proibido.
Mexe com a essência da gente,
Com o libido.
Tudo fica mais excitante.
No encontro escondido
O coração bate forte,
O rosto cora.
Num simples toque de mão.
Não há quem suporte
A emoção da primeira vez,
É emoção de mais.
Mistura de medo e paixão
Arrependimento jamais.
Os sentimentos saltam aos olhos,
As palavras saem entrecortadas.
Parece que o mundo inteiro
Vai descobrir esse pecado.
Mas com tanto amor assim,
Com certeza seremos perdoados.
DESENCONTRO 2 (Mia Couto)
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei

e acariciei
o teu impercetível crescer
como carne da lua
nos noturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar.

No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada.
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio.

novembro 29, 2017

ENTRANHAS (Agostina  Akemi)
O sorriso caiu.
Entre as pétalas de mim:
o cio.
Esperma aos farelos.
A lua boia na taça de sangue.
Entre os sopros selvagens,
tórridos toques
(sinceros como um cadáver).
Com os dedos enfiados no vento,
quero lamber a liberdade.
Já esfacelei minhas lágrimas.
Enquanto o sol
baba sobre mim,
vou varrendo minha sombra
com restos de beijos.
A esperança dormiu.
Entre os subúrbios de mim:
a dor.
Bolhas de areia,
cacos de suor.
Há bolor nas estrelas.
Eis-me pecado!
Eis-me boca!
Pouca coisa:
alfinetes incendiados.
O amor vai pingando sobre o telhado,
amargo enquanto vocábulo:
deserto parido.
A vida é um estupro:
nasci para morrer.
Renascer das cinzas,
das sobras,
das teias.
Vou lutar até o orgasmo.
A noite
arrotou.
Assim seja,
assim sangre.
Entre a poeira de mim:
o prazer.
Caroço de paixão.
Vou morrer.
Vou morrer. Mas é só para te humilhar.
Vem.
Degola meu cheiro.
Não sou mulher,
sou distanásia.
HAICAIS  (Eugénia  Tabosa)
teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados

      meus dedos-olhos
      desvendam sem pressa
      doces mistérios

palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso.

O DESLIZAR  (Ricardo R. Almeida)
Deslizo 
A sua imagem pelo meu pensamento
O seu cheiro pelo meu sangue
A sua voz, as suas palavras pelo meu desejo.

Deslizo
As minhas mãos por entre as suas coxas
A minha boca pelos seus lábios
O meu corpo pelo seu.
Deslizo
Tudo o que pode haver no mundo
E que no entanto somos só nós dois
A dançar como imagens oníricas.
Deslizar de sonhos
de espaços intermináveis
De amores, paixões incontroláveis
Infinitas.

Deslizo
Trêmulo, nervoso pelo meu desejo
De não deixá-la deslizar
Por entre as minhas mãos.