O MAR (Otelice Soares)

Voltei ao mar.

Silenciosa, passo a passo,

Aproximei-me do mar.

Saudei-o,

Falei-lhe do meu amor.

Amo o mar.

E ele, tranquilo,

Abriu sobre mim as suas ondas.

Abraçou-me o mar.

E eu, feliz e saudosa,

Deixei-me levar.

Entrelaçada, ritmada,

Mergulhei todo o meu ser,

No mar.

Esqueci o redor

Os maus tratos,

a ingratidão – visível -

com o mar.

E, agradecida,

Beijei o mar.

É doce rever o mar,

É doce amar o mar.

ESCANDALOSA (Mírian Wartthusch)

Você gosta de provocar o meu ciúme,

Ao cruzar as pernas de modo sensual...

Exageras nos decotes com tua exuberância,

Promoves desvarios e etc... e tal...

Escandalosa!

Um sorriso ordinário, uma boca perfeita

Teus lábios de carmim, tão bem pintados,

São um convite ao desejo... e quando passas,

Deixas aos teus pés homens apaixonados!

Escandalosa!

Fazes questão da saia justa e provocante,

Tecido fino, deixa o corpo modelado.

Ao passar, deixas no ar o teu perfume,

Ninguém resiste mesmo a esse rebolado!

Escandalosa!

  ESQUECE O FUTURO
Esquece o futuro… ele não te pertence!
O presente te basta!
Mas é preciso ser rápido, quando ele é mau presente
E andar devagar quando se trata de saboreá-lo
Expressões como: “passar o tempo” espelham bem a maneira
de viver dessa prudente…. que imagina não haver coisa melhor
pra fazer da vida.
Deixam passar o presente, esquivam-se, ignoram o presente…
Como se estar vivo fosse uma coisa desprezível…
Porque a natureza nos deu a vida em condições tão favoráveis…
que só mesmo por nossa culpa ela poderia se tornar pesada e inútil.  (Montaigne)

TANTA  SAUDADE

( Djavan & Chico Buarque)
Era tanta saudade
É, pra matar
Eu fiquei até doente
Eu fiquei até doente, menina
Se eu não mato a saudade
É, deixa estar
Saudade mata a gente
Saudade mata a gente, menina.

Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além
Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem.

Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão
Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração.

Mas voltou a saudade
É, pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
É, deixa estar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina.

Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte, é monte atrás de monte, é
monte, a fonte nunca mais que seca
Ai, saudade, inda sou moço, aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro
um mundo e dentro um mundo e dentro é um mundo que me leva.

      QUANDO VIER A PRIMAVERA   (Alberto Caieiro)

Quando vier a primavera,

Se eu já estiver morto,

As flores florirão da mesma maneira

E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme

Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria

E a primavera era depois de amanhã,

morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,

Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.

Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.

O que for, quando for, é que será o que é.

AINDA TE PROCURO

(Ivan Lins & Vitor Martins)

Eu ainda te procuro

No claro, no escuro

Nos lugares seguros ou não.

Eu ainda te procuro

Com olhos de águia

Com o faro agudo de cão.

Eu ainda te procuro

De uma forma sobre-humana

Nas cartas da cigana

Ainda estás nas minhas mãos

E uma chance dessas não se perde assim

Já é hora de eu gostar mais de mim.

Eu ainda te procuro

Porque és a minha cara

Um bem que não cortei pela raiz.

Eu ainda te procuro

Pelo amor, pelo futuro

Me recuso a desistir de ser feliz.

ÁGUA  DOCE

(Ivan Lins & Victor Martins)

  Brilha em seu olhar

A chama

Que só brilha em

Quem ama

Tão clara,

Tão raro de se ver.

Lado bom do

Ser humano

Água doce

No oceano

Que eu vejo desejo,

Quero ter.

DEPOIS DOS TEMPORAIS

Ivan Lins  &  Victor Martins)

Sempre viveram no mesmo barco

Foram farinha do mesmo saco

Da mesma marinha, da mesma rainha

Sob a mesma bandeira

Tremulando no mastro

E assim foram seguindo os astros

Cortaram as amarras e os nós

Deixando pra trás o porto e o cais

Berrando até perder a voz

Em busca do imenso,

Do silêncio mais intenso

Que está depois dos temporais.

E assim foram seguindo em frente

Fazendo amor pelos sete mares

Inchando a água de alga e peixe

Seguindo os ventos

As marés e as correntes

O caminho dos golfinhos

A trilha das baleias

E não havia arrecifes

Nem bancos de areia

Nem temores, nem mais dores

Não havia cansaço

Só havia, só havia azul e espaço.

SEIOS E ANSEIOS (Mia Couto)

As vezes que morri
boca derramada entre os teus seios,
todas essas vezes
não me deram luto
porque, de mim, eu em ti nascia.

Todos esses abismos,
meu amor,
não me deram regresso.

Depois de ti,
não há caminhos.

Porque eu nasci
antes de haver vida,
depois de tu chegares.

 

NOCTURNAMENTE (Mia Couto)

Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo.

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio.

Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces. 

PERGUNTA-ME (Mia Couto)

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue.

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos.

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente.

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer.

VISITANTE(Bruna Lombardi)

Imagino teu vestido
jogado num canto do quarto
imagino teu sapato
debaixo da minha cama
nosso potencial de drama
espremido entre as paredes
desse apartamento
onde enfrento teu silêncio
como uma arma que aponta
sem nunca puxar o gatilho

então eu invento o brilho
descortino outra pessoa
debaixo da minha cara
tenho outra identidade
escondida na gaveta
uma fantasia, uma tara
secreta

e passeio clandestino
no meio das tuas coisas
observo atento
teus pequenos movimentos
frente ao espelho do banheiro
você esfrega o corpo debaixo da torneira
da mesma maneira repetida
e é como se eu te visse
pela primeira vez na minha vida.

VIRTUAL OU REAL (Avany Morais)

Ah! como te quero
como espero, ansiosamente
pelo momento de contigo estar.
Poder te sentir, te abraçar.
Sonho com o momento
de estar em teus braços,
me aconchegar em teu peito
me deixar levar pelos teus carinho
me entregar aos teus caprichos,
e viajar contigo, para um mundo só nosso.
Sonho contigo ao meu lado,
dormindo, acordada
realizo contigo, as fantasias
mais lindas, e me sinto realizada.
serei sua amada.
Neste momento, serei sua por inteira,
uma mulher pura e verdadeira,
amante, companheira, apaixonada,
Vem meu sonho realizar.
Quero coladinha ao teu corpo ficar.
dizer o quanto te quero.
O quanto desejo, sentir
o teu calor
o perfume que exala do teu corpo
o teu cheiro
o teu suor
o sabor real dos teus beijos
o gosto delicioso dos teus lábios
o toque sensual de tuas mãos.
Sonho com este instante, tão sublime,
e me sinto ao teu lado, meu amado.
Ao deitar-me, fecho os olhos,
e vejo-te ao meu lado.
Sinto o teu toque carinhoso,
sensual
meu corpo, vibra de emoção.
Que paixão é esta,
Que faz pular meu coração,
que me deixa assim, sem ação?
Que sentimento é este,
que me deixa anestesiada,
só ao pensar em teu amor?
É tão real.
Não tem nada de virtual,
a emoção que sinto,
quando ao teu lado estou.
Fico completamente embriagada
quando penso nas palavras doces
sussurradas aos meus ouvidos,
mesmo a distância
mesmo que seja
apenas em meu pensamento.
Esta tua ausência sempre tão presente,
se faz presente sempre
na saudade que sinto.
Não quero saudade sentir!
Quero-te aqui, juntinho a mim!
Sou tua menina sim.
É assim, que me sinto,
quando com carinho me abraças
e me dá um beijinho
transporto-me no tempo.
Sinto-me uma adolescente.
Vem comigo viajar, fantasiar.
Vem!
Vem saciar minha sede e fome de amar.
Quero te sentir, em meus poros,
e arrepiar o corpo inteiro,
quando neles eu te sentir.
Quando minha pele tocar.
Quero o teu suor, grudado ao meu suor.
Nossas bocas seladas
com um delicioso beijo.
Quero ser o teu desejo,
aquele mais ousado, mais atrevido,
é disto que realmente preciso.
Quero me doar por inteira,
não te dar tempo de pensar,
respirar, somente me amar.
Ser meu, somente meu.
Assim como serei somente tua.
Vem completar a minha felicidade,
com cumplicidade, com fidelidade.
Vamos juntos aprender,
a conjugar o verbo amar
a felicidade conquistar
quero-te ao meu lado,
sem me preocupar com o futuro
ou com o passado.
Viver contigo o presente, sempre.
Vem! 

TEU CHEIRO(Avany Morais)

Ah! meu amado
se tu soubesses,
quanto te quero
te espero e te adoro
o quanto dia e noite,
sonho com o momento
que juntos novamente
podemos ficar
e nossos desejos concretizar
vem me amar
quero te sentir, te tocar
com você rolar em qualquer lugar,
desde que com muito amor.
vem, nossas vontades matar
quero te amar
e com você perpetuar
minha vida, nossa vida
meu amor, nosso amor
quero seu gosto, seu sabor
quero o seu suor, no meu suor
quero seu corpo, sem pudor
nunca ser, seu desamor
quero poder te amar, ser toda sua
ser possuída, me deixar possuir.
Quero ser sua, enfim
e nunca ter que sair:
de seu corpo
de seu aconchego
do seu regaço
dos seus braços
do seu amor
da sua cama
quero ser para todo o sempre,
sua querida
a mais amada
a mais desejada
a mais pervertida
a mais ousada
a mais sexy
a mais atrevida
a mais, mais
de sua vida
sem trégua, sem medidas
sem adeus, sem jamais, sem partida.
quero seu cheiro, o mais forte,
o mais ardente, provocante,
o mais excitante.
Quero seu cheiro de macho,
de amante
o cheiro que só a fêmea sente
aquele atraente.
vem pra mim,
quero te sentir.
seremos neste momento
apenas um homem e uma mulher
diz que me quer!
não me faça esperar
vem me amar
quero me doar por inteira.
Com muita paixão,
ser o seu tesão.
fazer bater mais forte,
o seu coração.
saciar a vontade louca
de te apertar em mim,
de beijar-te a boca e te sentir.
poder o desejo, matar
te amando, me entregando.
e juntos, nos enlouquecendo.
quero o seu beijo mais forte,
aquele que supera até a morte.
deixa eu gozar com você,
e depois minha cabeça em seu peito
encostar, adormecer.
e ao acordar, em teu corpo
me enroscar,
e novamente a você me entregar,
pois só você, e com você, eu sei amar. 

A PRIMAVERA (Avany Morais)

A primavera chegou
E trouxe com ela,
os pássaros, as flores, as abelhas.
E o perfume das flores do campo,
que nos enche de saudade,
de ternura e encanto.
Os corações se enamoram, se apaixonam.
E vivem a magia desta estação
de tanto charme e alegria.
O amor se propaga no ar
contagia, penetra nos corações.
Semeia sensualidade
e planta nos corações a paixão.
A primavera enche de perfume
os campos, os jardins, a vida enfim.
O colorido das flores
se misturam e se confundem.
A primavera trouxe seu cheiro,
seu amor, trouxe você só para mim.
O vento traz seu perfume
que me embriaga, me alimenta,
me encanta.
Sinto-te aqui, perto de mim.
Sinto teus braços a enlaçarem meu corpo .
Fecho os olhos
e sinto uma brisa suave
a me tocar a face, os olhos.
E imagino você me beijando
com os lábios molhados, apaixonados.
Tão perfumado , quanto as flores do campo.
Sinto o sabor de sua boca.
O toque provocante de suas mãos.
Seu corpo está suado,
de desejo, de ansiedade.
Posso perceber o quanto estás excitado.
Sinto-o enrijecido,
ao me apertar em seu corpo
pelas costas.
Arrepio de tesão.
Sinto seu hálito quente,
em meu pescoço.
Fico excitada, quente, molhada.
Me entrego aos seus carinhos.
Sua respiração aumenta, fica ofegante.
Abro os olhos, você não está.
Suspiro profundamente.
É a magia do amor,
que com a primavera chegou.
Me embriagou, me fez delirar, voar.
Que saudade de você!
Mas, afinal cadê você?
Ah!como eu queria ter você,
em meus braços
em meus abraços
em minhas mãos
em meu corpo
em minha vida
ser sua querida
e estar agora, em seu coração.
Pode crer, tudo eu faria
Para estar sempre em sua vida,
sem partida, jamais.
Pois, só você me satisfaz. 

TOQUE SENSUAL(Avany Morais)

Você me toca levemente
Num toque sensual, especial.
E neste momento mágico,
sinto sua energia percorrer
todo meu corpo.
Flutuo, navego, arrepio.
Fecho os olhos
e sinto sua mão deslizando
suavemente pelo meu braço,
em direção ao meu ombro
toca deliciosamente mina nuca.
Viajo
e num segundo vou até você.
Você se aproxima e me abraça,
cola nossos rostos
nossos corpos
tremo inteira.
Sinto sua respiração ofegante.
Seu hálito quente,
que toca meu pescoço
minha pele, minha nuca
e me desmonta, me enlouquece.
Me entrego a este abraço alucinante
e sinto seu corpo se inflamar
enrijecer e me desejar como nunca.
Você me beija os cabelos
o rosto, os olhos
e sinto suas mãos,
desvendando meus mistérios,
em movimentos cadenciados,
provocantes e censurados.
Já não existe nenhuma distância
entre nossos corpos.
Entre nós, só o coração,
que bate acelerado,
e desesperadamente grita:
te quero, te quero, te quero.
Seus lábios sedentos me beijam.
Sua língua me lambe,
me suga freneticamente,
me levando a uma loucura incontrolável.
Ah!...como é maravilhoso amar você!
Sentir você em mim!
Sua boca procura minha boca
e gulosamente me beija,
numa paixão louca insaciável.
Ao sentir o calor aconchegante
de sua língua úmida e quente,
me ofereço inteira pra você.
Me entrego ao seu prazer.
Sou sua, meu amor.
Me faça sua fêmea.
Me possua.
Venha ser o meu macho.
O macho que tanto desejo!
Sacia minha sede com seus beijos.
Quero contigo gozar
e ao teu prazer me entregar.
Depois sele minha boca
com um grande beijo
e me ofereça seu corpo,
mesmo cansado,
para nele eu descansar
as forças poder recuperar
relaxar.
Depois o caminho refazer,
e deixar tudo, tudo
novamente acontecer.

                       LOUCOS  (Avany Morais)

Falar de loucos é falar de sábios!

Posto que, loucos veem além da visão.

Sentem nos lábios a essência da vida

E discordam, sem pedir permissão.

Loucos. Precisamos destes loucos

Para virar a mesa, jogar o jogo bruto,

Mudar o mundo, as regras, não aos poucos,

Mas mudar abruptamente, num espaço curto.

No caos que se encontra nosso país no momento,

Atravessando duramente tanto descontentamento,

Para mudar, hoje, ser louco é a única solução.

Somente um louco, poderia revolucionar a nação.

Um louco que sonhando seja capaz de o mundo mudar.

Que vivendo seja na terra, no ar ou no mar, ouse.

Crie, invente, faça seu pensamento ecoar, vibrar.

Sem medos, sem tabus, um louco essencial capaz de amar.

SÓ O AMOR ME INTERESSA

Nesta fase em que só o amor me interessa 

o amor de quem quer que seja 

do que quer que seja 

o amor de um pequeno objecto 

o amor dos teus olhos 

o amor da liberdade 

o estar à janela amando o trajecto voado 

das pombas na tarde calma 

nesta fase em que o amor é a música de rádio 

que atravessa os quintais 

e a criança que corre para casa 

com um pão debaixo do braço 

nesta fase em que o amor é não ler os jornais 

podes vir podes vir em qualquer caravela 

ou numa nuvem ou a pé pelas ruas 

- aqui está uma janela acolá voam as pombas - 

podes vir e sentar-te a falar com as pálpebras 

pôr a mão sob o rosto e encher-te de luz 

porque o amor meu amor é este equilíbrio 

esta serenidade de coração e árvores. 

*Egito Gonçalves, in "Antologia Poética." 

POEMINHA DE LOUVOR AO STRIP-TEASE SECULAR (

Millôr Fernandes)

Eu sou do tempo em que a mulher 

nem mostrava o tornozelo; 

que apelo! 

Depois, já rapazinho 

vi as primeiras pernas de mulher 

por sob a curta saia; 

que gandaia! 

A moda avança, 

a saia sobe mais, 

mostrando já joelhos 

lupercais! 

As fazendas com os anos, 

se fazem mais leves, 

e surgem figurinhas, pelas ruas, 

mostrando as lindas formas quase nuas. 

E a mania do sport 

trouxe o short. 

O short amigo, 

que trouxe consigo, 

o maiô de duas peças. 

E logo, de audácia em audácia, 

a natureza, ganhando terreno, 

sugeriu o biquini, 

o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno 

não se sabendo mais, 

até onde um corpo branco, 

pode ficar moreno. 

Deus, a graça é imerecida, 

Mas dai-me ainda 

Uns aninhos de vida!

 

ESPERANÇA (Mário Quintana)

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as buzinas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E

— ó delicioso vôo!

Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,

Outra vez criança.

E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá

(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA.

Texto extraído do livro “Nova Antologia Poética”, Editora Globo.

PARA SEMPRE

(Carlos Drummond de Andrade)

Por que Deus permite

que as mães vão-se embora?

Mãe não tem limite,

é tempo sem hora,

luz que não apaga

quando sopra o vento

e chuva desaba,

veludo escondido

na pele enrugada,

água pura, ar puro,

puro pensamento.

Morrer acontece

com o que é breve e passa

sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,

é eternidade.

Por que Deus se lembra

- mistério profundo -

de tirá-la um dia?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

mãe ficará sempre

junto de seu filho

e ele, velho embora,

será pequenino

feito grão de milho.

CAPTUS  EST  LIBIDINE

(Lúcia Nobre)

aqua

benedicta

unctione

cabelos

olhos

narinas

boca

dorso

mamilos

ventre

umbigo

clitóris

vagina

abençoa

me

orgasmos

in

extremis

INVENTO-TE

(Julieta Lima)

Invento-te

Invento-me

Sem formas

Nem cor

Nem perfis

Nem tela!

Nós dois.

Esculpidos

No silêncio de uma praia

Que a anarquia do mar

Afaga e flagela!

Invento-te

Barco transparente

Em indecisos traços

Adivinhando

Ais libidinosos

No sexo da água

Em que me torno

Ousada ondulada bela

A estremecer

Quando de manso

Me rasga capitosa

A volúpia acerada

De uma vela.

GOZO  XI

(Maria Tereza Horta)

Conduzes na saliva

um candelabro aceso

um chicote de gozo

nas palavras

E a seda do meu corpo

já te cede

neste odor de borco em que me abres

Sedenta e sequiosa

vou sabendo

a demorar o tempo que se espraia

ao longo dos flancos que vou tendo:

as tuas pernas

vezes teu ventre

A tua língua

vezes os teus dentes

na pressa veloz com que me rasgas.