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20/01/2017

MUSA DOS OLHOS VERDES

(Machado de Assis)

Musa dos olhos verdes, musa alada, 
          Ó divina esperança, 
Consolo do ancião no extremo alento, 
          E sonho da criança; 

Tu que junto do berço o infante cinges 
          C’os fúlgidos cabelos; 
Tu que transformas em dourados sonhos 
          Sombrios pesadelos; 

Tu que fazes pulsar o seio às virgens; 
          Tu que às mães carinhosas 
Enches o brando, tépido regaço 
          Com delicadas rosas; 

Casta filha do céu, virgem formosa 
          Do eterno devaneio, 
Sê minha amante, os beijos meus recebe, 
          Acolhe-me em teu seio! 

Já cansada de encher lânguidas flores 
          Com as lágrimas frias, 
A noite vê surgir do oriente a aurora 
          Dourando as serranias. 

Asas batendo à luz que as trevas rompe, 
          Piam noturnas aves, 
E a floresta interrompe alegremente 
          Os seus silêncios graves. 

Dentro de mim, a noite escura e fria 
          Melancólica chora; 
Rompe estas sombras que o meu ser povoam; 
          Musa, sê tu a aurora!