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maio 30, 2017

A  POESIA (Carolina  Salcides)
A poesia não está no papel
Está na vida.
Vista e sentida.
Por olhos sensíveis
E corpos que se permitem ir além.
Por almas que ousam
Interiores que gritam. 
Ser poeta um dia é fácil
Difícil é sê-lo sempre.
Fácil é amar.
Difícil é libertar a quem se ama
Libertar as palavras que inflamam.
Mas mais difícil não é libertar
Nem amar, criar, ousar.
Difícil é ser.
Um ser contido no mundo
E conter o mundo dentro de si.



SERÁ O CHÁ O LIMITE?
(Dora  Ribeiro)
O chá na tua boca

é o limite das
dilatadas terras
por onde ando

romaria de todos os
sabores distantes
bálsamo escolhido
na forma de beijo

a água do teu chá
tem cálamo ou talvez
canela
degraus sempre inferiores
ao teu modo de digestão

ô meu baudelaire
nasceste sensual e
exato
um perfeito acidente líquido
como aquele que o eugénio
viu em jerez de la frontera

será o chá o limite? 
NEM  SÓ (Maria Tereza Horta)
Nem só do teu silêncio
direi raiva
Nem de todo o meu corpo
direi vício

nem de todo o pénis
direi arma
e apenas do teu direi ter sido.

Quando o vácuo é de
vingar
ou de vergar
cravando sobre os seios a sua enxada.

Quando a minha boca se conjuga
no baixo do teu ventre
e tua espada.

nem de todo o desejo
direi verão
nem de todo o grito
a tua imagem

nem de toda a ausência
direi chão
e só de teus flancos
a viagem.
INUSITADOS  PRAZERES (Anna Amelia)
Preparei-me despi o meu corpo
retirei todas as vestes que o cobriam 
tomei um banho de águas claras. 
Perfumei-me com o frescor das montanhas 
chamei as estrelas mais brilhantes como cúmplices 
do acontecimento prestes a suceder, 
despejei em meu leito pétalas de flores silvestres, 
as mais cheirosas
Escancarei as janelas
purifiquei o ar de meu quarto, 
deixando a brisa entrar com o clarão do luar. 
Coloquei o Adágio de Albinoni baixinho. 
bebi um pouco de licor Amaretto. 
limpei do pensamento de qualquer incomodo 
estava pronta, para receber meu amor 
para vivermos aqueles prazeres, inusitados, 

que sabemos nos oferecer.


VOLÚPIA (Dagmar Pinto)
Quinze anos. Mal despontam, insinuantes, 
E cobertos de gaze transparente, 
Despertando-nos um desejo ardente 
Rígidos, seios alvos, tremulantes.

Tem nos olhos um brilho reluzente. 
Vendo-os fitos em mim, claros, vibrantes, 
Sinto invadir-me as carnes delirantes 
A chama da volúpia, de repente. 

Ah! se humano olhar a alma devassasse, 
Talvez grande castigo me esperasse 
Se descendesse de algum tronco régio. 

Mas, o desejo da carne não reprime: 
Se desejá-la constitui crime 
Deixar de desejá-la é um sacrilégio.

NUA  DE  MIM (Dulcinea  Carmona)
Hoje acordei assim,
Com palavras tristes.
E me sentindo sem freio.
Sem destino.
Sem achar o caminho.
Só com o agora.
Parece que cheguei de algum lugar.
Sem memória, sem freio.
Não sei o que veio,
Desvendar algo novo
Mas que viveu comigo,
Uma vida inteira.
Transitei pelas minhas músicas
Pelas minhas janelas
Sem destino.
Transitei nua de mim.
Não sei quem sou.
Estou sem freio,
Sem memória.
Estou sem você.
E nua de mim.
CEREJAS  E  CIO (Angela  Lara)
Quero as cerejas dentro de uma taça, 
Embriagadas de martini e gelo. 
Quero dizer-te vem e me abraça, 
Sorvendo em goles este teu apelo. 
No acre instante do nosso desejo, 
Beberei teu suco em goles pequenos, 
Olhando dentro dessa noite em pelo, 
A visão sutil dos nossos anseios. 
No cio presente da madrugada, 
Quero ser uma dama ou tua escrava, 
Uma presença que te marque inteiro. 
Eu quero ser tua final tortura 
Marcada em tua lembrança, farta e nua, 
Um verdadeiro cio em desespero.






CAIXINHA DE MÚSICA
(Ana Mafalda Leite)
impregno-me em ti como um perfume
como quem veste a pele de odores ou a alma de
cetins
quero que me enlaces ou me enfaixes de muitos
laços
abraços fitas ou fios transparentes
em celofane brilhando uma prenda
uma menina te traz vestida de lumes
incandescendo incandescente
te quer embrulhada em véus de seda e brocado
encantada a serpente a flauta o mago
senhor toca
e quando me toca
o corpo eu abro
caixinha de música
dentro
com bailarina que dança.

MEU OUTRO EU (Anna Rosa Cruz)
Meu coração pulsa
Teu olhar
Persegue-me.
Enlouquecida aparento-me!
És minha louca fantasia
Serás o meu.
Último suspiro enganador.
Onde apagarei as mágoas.
E contabilizarei as alegrias,
Desprezando todas tristezas!
Os vãos da alma
Sofrida.
És o meu outro eu.
Cuja vida
Afoga-me
Nos mares da vida!



SER  MULHER (Arlinda Lamego)
Este instante existe, congelado no meu peito. 
Em dimensão poética, contigo tão presente, 
Qual chama alimentada com azeite, 
Sinto-me perdida com este amor crescente. 

Eu me debruço por sobre a imensidão 
Desta estrada do nosso imaginário. 
E, de mãos dadas, vou trilhando a ilusão 
Em ter contigo uma página de diário. 

Comendo morangos silvestres, amoras e cerejas, 
Colhido livremente às margens do teu rio 
Tomando banhos de sonhos em plena natureza. 

Vejo-me nua, vejo-me tua, eu sou mulher 
Que pensa, que sabe, que quer, que tem 
Pra dar sentimentos e sabor no que se quer.

maio 29, 2017

DELEITE (Cristina da Costa Pereira)
A carne fareja integral libertação
imperiosa faz-se entrega aos sentidos
desbragadamente.
Assim.
língua com voracidade de Píton
a vasculhar todos os guetos
olhar lançado qual rede magnética
a azeitar de desejo
escorrido
em coxas escancaradas
mão que vá tão fundo
e faça jorrar, por fim,
luz que desce das estrelas.




QUERO UMA LÍNGUA NOVA
(Dora Ribeiro)
Quero falar uma língua nova

principiada na carta do teu
corpo
sem escrita lúcida nem
modos genitivos

quero uma língua
já gasta
gentilizada
versada em todos os
paganismos sórdidos e
elegantes

imagino-a já enciclopédica
ruminante e
devoradora de esperas

língua sem contenção

musa de labirintos.



DESENHO (Angela Nassim)
desenhaste

com lábios
meu rosto e
corpo

descobriste
meus vales
montes e
recôncavos

desvendaste
meus segredos
enlevos e
anseios

descreveste
meus gozos
em tatos e
gestos

tiveste-me.



ALQUIMIA DA VIDA (Rose  Felliciano)
És as palavras quietas,
por vezes incertas.
És meu silêncio.
Percorres labirintos secretos 
Sobrevoas segredos
Mistérios mantidos no olhar.

Queres ainda que te ensines
a comigo voar ?
Oras! tens as asas, os sonhos,
Tens a força , o desejo de amar.
Use-as
aquietes o vento,
sejas abrigo.
Tuas mãos estão soltas
e prontas.
Tens um vasto e fértil jardim
Crie raízes em mim.
Ah! se escritos fossem
os poemas em nós guardados,
E moldados nosso amor em poesia.
Explosão de sentimentos
A alquimia da vida.
Por Deus, em nós, nesse momento.
aconteceria.



ERA MÚSICA AO LONGE
(Angela  Nassim)
era música
ao longe
suave
penetrando em nossos
sentidos
nossos corpos
se misturando
transformando
num só corpo.
depois

quedamos

em silêncio
num abandono
lasso

ficou

o momento.

mesmo distante

sinto o calor

dos seus abraços
sua pele colada
a minha
seu suor
misturado
ao meu

seus toques

explorando

meus segredos
que deixaram
de ser. 
PAPOILAS (Ana Mafalda Leite)
estou opiada de ti
e percorres-me os nervos todos
com papoilas borboletas vermelhas

o meu corpo entrança-se de sonhos
e sente-se caminhando por dentro

aspiro-te
como se me faltasse o ar
e os perfumes dançam-me

qualquer coisa como uma droga bem forte
corpo e alma
rezam pequenas orações
gestos ritmados ao abraçar-te como que abraça
sonhos

coisa estranha
opiada me preciso ou apenas vestida de papoilas e
muito sol com luas por dentro

para poder mastigar estes sonhos
reais como mandrágoras.
TU QUE NUNCA SERÁS
(Alfonsina   Storni)
Sábado foi caprichoso o beijo dado,
Capricho de varão, audaz e fino
Mas foi doce o capricho masculino
A este meu coração, lobinho alado.


Não é que creia, não creio, se inclinado
sobre minhas mãos te senti divino
E me embriaguei, compreendo que este vinho
Não é para mim, mas jogo e roda o dado.


Eu sou a mulher que vive alerta,
Tu o tremendo varão que se desperta
E é uma torrente que se desvanece no rio


E mais se encrespa enquanto corre e poda.
Ah, resisto, mas me tens toda,
Tu, que nunca serás de todo meu.



A  CARÍCIA  PERDIDA
(Alfonsina  Storni)
Sai-me dos dedos a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos. No vento, ao passar,
A carícia que vaga sem destino nem fim,
A carícia perdida, quem a recolherá?
Posso amar esta noite com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida, andará, andará.
Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão pequena
Que te toma e te deixa, que te engana e se vai.
Se não vês essa mão, nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de beijar,
Ah, viajante, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?