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janeiro 31, 2018

CANTO DOS CANTOS DE AMOR N° 5 (Lílian Maial)
Por onde anda o meu amado,
por que caminhos de pedras, cascalhos e barro,
aquele, por quem meu corpo treme
e meu coração suplica?

O homem dos meus encantos,
aquele que me enxerga dentre todas
e me escolhe companheira.

O homem por quem lutaria cada batalha
e todas as guerras,
com o sorriso servil dos abençoados
pela chaga do amor.

Aquele que se aconchega em meu ombro
e acaricia meus dedos,
como quem toca a mais cara escultura,
a mais rica seda.

O pastor de rebanhos de sonhos,
o que leva o bastão da sabedoria,
veste os trajes da humildade
e pisa calçado de certezas.

Por onde anda o criador de pássaros,
que os ensina a cantar e fazer ninhos,
e tem em meus braços a morada?

Eu, a amada!
Aquela por quem abdicaria de todos os tronos,
para reinar, absoluto,
nos campos férteis do ventre da mulher que ama.


CANTO DOS CANTOS DE AMOR N° 1 (Lílian Maial)
Por onde anda aquele, por quem meu coração anseia?
O que tem a cabeça de filho, que se quer prender entre os seios, no colo,
para provar do conforto dessas mãos talhadas para o carinho?
O que tem os olhos de abismo, por onde se quer precipitar
e se perder em queda eterna, sem chão ou fim?
Eu, tua amada, envolta no negrume do teu olhar, doce amado.
Aquele, cujos lábios são pétalas em brasa, maciez que me queima de amor,
flor carnívora, rara flor, a me despetalar as vontades todas, todos os licores.
Eu, tua amada, a deitar a língua sobre tua pele almiscarada,
amado meu, homem entre os homens, bendito escolhido,
que entra na casa dos meus sonhos e ocupa o lugar na mesa,
bebe do meu vinho e come da minha carne.
Escolhe-me entre as frutas, madura e suculenta fruta,
à espera dos teus dentes clementes!

PLENITUDE (Conceição di Castro)
Venha para meus braços;
Sinta os toques das mãos;
Saboreie o mel de meus lábios.

A felicidade se encontra por todo meu corpo,
Pois não é sonho o que sinto,
É a realidade se concretizando no amor sentido.

Encontrar-te foi minha busca.
Encontrando-te, fiz-me graciosa.
Contigo transformei-me em mulher.

O universo engrandeceu-se.
A natureza floriu-se.
Os rios se tornaram límpidos.

Venha para perto de mim.
Sinta a delicadeza dos beijos.
Saboreie as palavras murmuradas em teus ouvidos.

Cada momento vivido contigo,
É o paraíso amoroso.
Os instantes são cheios de fulgor,
São cheios de amor.

Estamos juntos.
Estamos a sós.
Na plenitude do prazer.

VOLÚPIA!(Conceição di Castro)
Olhos brilhantes;
Sorriso sensual;
Mãos atraentes.

Excitas minha alma
Com teu jeito sedutor.
Fascinas os olhos de meus sonhos.
Encantas o coração.

Não resisto.
Entrego-me ávida por teu corpo
Beijo-te sequiosa de paixão.

Tua pele macia reluz
Os desejos sôfregos de tua alma.
Os olhares se cruzam
As respirações se mesclam
Os suspiros se enlaçam.

Beijamo-nos com volúpia.
Nossos corpos se entrelaçam
Entre gemidos de desejos
Com amor, com paixão.

NÃO CANTO PORQUE SONHO(Eugénio de Andrade)
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinha.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.
MIGNON (Ana Horta)
Um rapaz de linho antigo avança pelo rio...
És tu, minha amada?
Convoco-te
No incauto exercício da memória:
Sabores de suor
A pele transida na fímbria do universo
A vida e a língua equilibrando-se no gume da lucidez
Transbordando as nossas águas já quase sem terra para umedecer
Meu corpo desidratado no teu
E tu em mim quase exígua de desejo 
As línguas loucas no sexo
Mãos como mapas de abril
Abrindo territórios selvagens
Por entre todos os membros
Pés, joelhos, pernas
E a vida toda desmembrada, passo a passo, naquele quarto.
Uma romã...
Queria eu recordar
Como o fruto mais difícil de comer
Demorado
E o suco
escorrendo entre seus seios
Na noite negra da cidade
Os teus cabelos úmidos que me sufocavam
Como me sufoca agora a garganta seca da memória.
Comi o deserto para poder recordar-te
Quando toda água já se evaporou dos nossos corpos.
E agora fico aqui,
com um nó intocável
Em parte nenhuma do corpo
Que já não existe.



MINHA SAUDADE (Maria Tereza Horta)
Minha saudade
corpo de beber
.
meu corpo- vidro
tão desenganado
.
à transparência só sei
de sofrer
planta que trato
com tanto cuidado
.
Minha saudade
minhas ancas breves
.
na cama certa
tão anoitecida
.
desperta a causa
e desperta a língua
a procurar o meu prazer
na ferida.

janeiro 26, 2018

VALSA BRASILEIRA (Edu Lobo & Chico Buarque)
Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu.
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer.

CASO (Bruna Lombardi)
Pode ser mais um capricho
pode ser uma paixão
pode ser uma coisa de bicho
pode não
pode ser já por destino
pelos astros, pelos signos
por uma marca, uma estrela
talvez já tivesse escrito
na palma da minha mão
talvez não
talvez até nem fique
nem signifique nada
nem me arranhe o coração
pode ser só uma cisma
pode estar só de passagem

ou não.
Pode ser mais um capricho...




janeiro 22, 2018

SIMS (Nálu Nogueira)
Eu quero sims
sims na tua boca
na tua pele
no meu cabelo esparramado
em travesseiros
sims em sucessão
estroboscópica
no meu olhar caramelo
nos meus pelos
nas gargalhadas que darei
- e darei, acredite-me.

Sims brotando roucos
na garganta
escapulindo pelos
lábios, a língua
provocante procurando
sims na tua boca
no gosto da tua boca
no perfume que a tua pele
exala, no teu olhar que
inebria.

Sims que quero ver
na chama que arde
trêmula, nas sombras,
sentir os sims nas mãos
que passeiam lânguidas
ávidas, a minha pele
de seda, a tua masculinidade
o teu suor, o meu suor
de quem é? De quem são?
os sims que ouço, de quem?
sinais, paixões
essas estrelas, de quem?
esse luar no cristal
esses cabelos abundantes
que cobrem teu rosto
percorrem teu corpo.

Sims para cada parte
que minha boca vasculha
meus olhos nos teus
olhos sims!
nas bocas se confundindo
na língua que brinca
comigo
sims nas pernas
entrelaçadas
nas mãos e nas unhas
riscando as costas, sims!
o corpo em arco, olhos
fechados em sims,
gemidos,
sims de portas escancaradas.
PALPITANDO ALUCINADO (Ana C. Pozza)
Não bateu inspiração.
O que me move
É esta enlouquecida paixão
Que dispara o coração
A cada suspiro de saudade
Quando aumenta a vontade
De encontrar os doces lábios teus.


E todo o meu corpo,
Palpitando alucinado,
Volta-se a esta saudade
Espreguiçando-se num cansaço
Só pra ter o teu abraço
Enlaçando apertado
Todo o desejo meu.
CONTENDA (Walter  Dimenstein)
Começa a doce contenda
As tuas partes pudendas
Túrgidas e deslisantes
Abarcam meu corpo fálico
Semipétreo e pulsante
E flui o êxtase mágico
Com murmúrios e carícias
Ó que sublime delícia
Logo após nova contenda
As tuas partes pudendas.
DEDOS DO SILÊNCIO (Rosy Feros)
Vem...
          Me toma à beira da noite,
          caminha por mim
          com seus passos molhados,
          despeja seu rio no meu cálice
          – pois minha emoção é só água.

Vem...
          Que eu lhe dou um trago
          deste meu vinho guardado,
          destas minhas uvas
          frescas de inverno.
          Que eu derramo em gotas meu perfume
          pelos quatro cantos do seu corpo,
          vestindo sua pele com a camurça
          da nudez e do silêncio.

Vem...
          Deita e me canta,
          sente meu desejo
          se esgueirando pelos seus dedos,
          veleja sem bússola
          pelos meus sentidos,
          me olha como quem pede lua.

          Deixa eu sussurrar minhas folhas,
          soprar minhas pétalas
          pelo seu peito de relva,
          pelo seu solo macio.
          Vem... Não volta,
          esquece a hora morta
          do cotidiano de sempre.
          Me toca feito música
          e deixa eu cantar meu bolero
          pelas suas curvas de carne.

          Sinto-me inocência
          passeando por suas alturas,
          por seus andares cheios
          da mais noturna noite densa.

          Desvenda essa face molhada
          e me mostra a sua vertente original
          de emoção-fêmea pura.
          Que eu o espero na branca paz
          do meu ventre adormecido,
          dos meus braços plenos
          de fogueiras e cantigas.

Vem...
          Que eu desfolho
          toda essa sua vontade nua,
          que eu desperto
          todo esse seu lado cigano.
          pois o meu leite é morno
          e é rosa franca meu sorriso.
          Deixa seu barco
          navegar pelo meu leito,
          que eu carrego no peito a ânsia
          de hastear a bandeira do infinito.

Vem...
          Deita. Me namora.
          Me afoga no espelho de luz
          dessa madrugada afora,
          me diz que no nosso tempo
          não há tempo nem hora,
          que eu não aguento
          a flor do sexo que arde
          nas entranhas de mim.


          Deixa que eu amanheça
          na espuma dessa sua onda quente,
          deixa sua emoção fluir
          da garganta num repente.
          Que eu carrego nos olhos de relento
          a voz que lhe pede a terra
          e que lhe entrega o mar.
MINHA  MULHER (Calex Fagundes)
A minha mulher
tem mistério insondável,
recato impenetrável
aos olhos voyeurs.

A minha mulher,
tem uma nudez invisível
e um olhar transparente
só para o que quer.

A minha mulher
tem o encanto das fadas
e a magia das bruxas
quando estamos em nós.

Ela sabe fazer-se inteira
nunca está em pedaços
sabe todas perícias
atar e soltar nossos nós.

Nela, o meu corpo presente
é mais do que tudo,
do eterno, um estudo,
quando estamos a sós.

Ela tem a magia dos celtas,
obtém a têmpera correta,
de traz-nos o instante
de toda eternidade.

Ela tem o erotismo dos anjos
o silêncio dos sábios
ao dizer o que é
ser a minha mulher.
SONHEI  COMIGO (Eugénia Tabosa)
Sonhei comigo
esta noite
Vi-me ao comprido
Deitada
Tinha estrelas
nos cabelos 
em meus olhos
madrugadas
Sonhei comigo
esta noite
como queria
ser sonhada
Senti o calor da mão
percorrendo uma guitarra
De loge vinha um gemido
uma voz desabalada
Havia um campo
de trigo
um sol forte
me abrasava.
E acordei
meio sonhando
procurando
me encontrar
Quando me vi
ao espelho
era teu
o meu olhar.
PARIS (Eugénia  Tabosa)
Caminhavas lento 
o corpo solto 
quase displicente 
à volta do rosto 
cabelos dourados 
pelo sol poente. 

Imaginei-te nu 
qual estátua viva 
apenas saída 
do museu em frente. 

E ali fiquei parada 
no banco da praça 
olhando esquecida 
de encobrir o olhar. 

E fui te despindo 
sonhando acordada 
sem me perguntar 
de tua vontade. 

Passaste sorrindo 
atrasando o andar, 
como se estiveras 
num espelho a entrar.

ORGASSEMA ( E.M. de Melo e Castro )


de semântica sêmea
se insinua o sêmen
na lacona lagoa lacunar
e da sádica sede se ressente
o sentido
no sentido cunar.

se sádica ou sábia
quem o saberá?
Se salubre salgado
o teu sabor a odre
é a onda do útero
é terra que remorde
a espera de esperma
nas ásperas paredes.

e o significado vem
da fricção rítmica e formal
entre as mucosas rubras
do pênis, da vulva, da boca 
ou da anal.

VISITA (De Paula,W.J.)
Gosto de morar em você 
De me ter entre suas negras colunas. 
Gosto de me ter em você, 
Escancarando essa porta hospitaleira, 
Passeando, perdido, pelo corredor. 
Insano, feliz 
Entrando e saindo. 
Saindo e entrando, sem destino. 
Suando, umedecendo, molhando. 
Até me derramar em contentamento 
No mais íntimo dos seus aposentos.

Adoro morar em você, meu lar.

MAR GLU-GLU (Cuti)
bunda que mexe remexe e me leva 
num belo novelo de apelo e chamego 
me pego a pensar que essa vida 
precisa envolver como tu 
nesse dengo gostoso que nina e mastiga 
meu olho que vai atrás 
sonho carnudo embalando as ondas ou dunas colinas montanhas veludomoventes do caminhar 
balanço de exuberância a marolar a distância 
a bunda é mergulho e murmúrio no mar glu-glu 
a forma do espaço repleto e nu.
GEOMETRIA BIDIMENSIONAL (Miriam Alves)
Confluência das coxas 
Encontro pleno da geometria 
Há um triângulo isóscele 
triângulo isóscele 
Triângulo isóscele pede 
isóscele padê 
pode
pede posse 

(padê)

DOIS CORPOS (Roseli Nascimento) 
(em chamas) 
Fez-se a nudez 
Ávidos 
À 
Vida 
Em um mergulho 
Solar.

LUZ NA URETRA(Cuti)
O coração na cabeça do pênis
sístole e diástole sou-te
na vagina
e
num voo riacho
espalho-me
via láctea
no teu
infiníntimo.

janeiro 20, 2018

ONÍRICO (Ana Horta)
abre-me o sexo
como um livro
para ler com os olhos
e os dedos em êxtase
cada corpo é um livro

para leitores ávidos.
Derrama o mel dos teus olhos
na tesão das páginas
Dentro das paredes brancas do quarto
só tu existes
E toco-te apenas a contracapa da vida!
Deixaste um sorriso oblíquo
numa das páginas marcada
com o canto dobrado
Vou contar-te um sonho antigo
da adolescência do corpo:
Há uma negra hermafrodita dançando nua
em torno de uma fogueira
o cabelo curto em caracóis fortes 
como a púbis
a pele suada, brilhando
o pénis enorme, erecto
os seios pequenos e firmes.
A música tribal imparável como o desejo..
a fogueira arde
deita fagulhas sob as estrelas
e a negra dança suada
sob os meus olhos suados.
Sempre que tenho cinzas sobre a pele
ela volta a acendê-las
com a sua dança louca
repete o suor do mel
o som dos tambores.
Agora,
estás de cócoras olhando o fogo
vestido com trapos negros
Sorris,
os teus dentes atravessam a fogueira
e rasgam-me os seios
como madeira em brasa.