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dezembro 30, 2016

CARNE E OSSO  (Moska & Zélia Duncan)
Alegria do pecado às vezes toma conta de mim.
E é tão bom não ser divina
Me cobrir de humanidade me fascina
E me aproxima do céu.

E eu gosto de estar na terra cada vez mais
Minha boca se abre e espera
O direito ainda que profano
Do mundo ser sempre mais humano.


Perfeição demais me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso, pra não ser. 
AMOR  COM  CAFÉ  ( Cecéu )
Se você quiser o meu amor
Tem que ser assim
Agarradinho, escondidinho
Bem bonitinho
Somente pra mim
E de manhã cedo
Trazer na cama
Depois do café
A gente se ama 
A gente se gama
Depois do café
Ficar o dia inteiro
Nesse dá-me, dá-me
Nesse toma, toma
Nesse pega, pega
Nesse coma, coma
Nessa brincadeira
Sem ninguém dar fé
Que o dia vai acabar
E a noite já vem
E nosso amor pegando fogo
Vamos se queimar 
Somente a gente nesse jogo
Pra se ganhar
E muito mais se querer bem.


SOU  VOCÊ ( Caetano Veloso )
Mar sob o céu, cidade na luz
Sonho meu, canção que eu compus
Mudou tudo, agora é você.

A minha voz que era
da amplidão, do universo, da multidão
Hoje canta só por você.

Minha mulher, meu amor, meu lugar
Antes de você chegar
era tudo saudade
Meu canto mudo no ar
faz do seu nome hoje o céu da cidade.

Lua no mar, estrelas no chão
a seus pés, entre as suas mãos
Tudo quer alcançar você.

Levanta o sol do meu coração
Já não vivo nem morro em vão
Sou mais eu porque sou você.


BEIJO   SEM (Adriana  Calcanhotto)
Eu não sou mais quem você
Deixou, amor
Vou a Lapa decotada
Bebo todas, beijo bem.

Madrugada, sou da lira
Manhãzinha, de ninguém
Noite alta é meu dia
E a orgia é meu bem.

Eu não sou mais quem você
Deixou de ver
Vou à Lapa decotada
Viro outras, beijo sem.


Eu não sou mais quem você
Deixou, amor
Vou à Lapa decotada
Viro todas, beijo bem.

Madrugada, sou da lira
Manhãzinha, de ninguém
Noite alta é meu dia
E a orgia é meu bem.


SEMPRE (Paulo Neruda)
Ao contrário de ti 
não tenho ciúmes. 

Vem com um homem 
às costas, 
vem com cem homens nos teus cabelos, 
vem com mil homens entre os seios e os pés, 
vem como um rio 
cheio de afogados 
que encontra o mar furioso, 
a espuma eterna, o tempo. 


Trá-los todos 
até onde te espero: 
estaremos sempre sozinhos, 
estaremos sempre tu e eu 
sozinhos na terra 
para começar a vida.


TENHO FOME DA TUA BOCA

(Pablo  Neruda)
Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo, 
e ando pelas ruas sem comer, calado, 
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta, 
busco no dia o som líquido dos teus pés. 

Estou faminto do teu riso saltitante, 
das tuas mãos cor de furioso celeiro, 
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas, 
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa. 

Quero comer o raio queimado na tua formosura, 
o nariz soberano do rosto altivo, 
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas 

e faminto venho e vou farejando o crepúsculo 
à tua procura, procurando o teu coração ardente 
como um puma na solidão de Quitratue.
 
NU COM A MINHA MÚSICA
(Caetano Veloso)
  Penso em ficar quieto um pouquinho
Lá no meio do som
Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom
Passo devagarinho o caminho
Que vai de tom a tom
Posso ficar pensando no que é bom

Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor
Vertigem visionária que não carece de seguidor
Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou.

Nu com meu violão, madrugada
Nesse quarto de hotel
Logo mais sai o ônibus pela estrada, embaixo do céu
O estado de São Paulo é bonito
Penso em você e eu
Cheio dessa esperança que Deus deu.

Quando eu cantar pra turba de Araçatuba, verei você
Já em Barretos eu só via os operários do ABC
Quando chegar em Americana, não sei o que vai ser
Ás vezes é solitário viver.

Deixo fluir tranquilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
Cana, café, capim
Coragem grande é poder dizer sim.

LEÃO DO NORTE
(Lenine & Paulo César Pinheiro )
Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou um boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral

Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo num baque solto de um Maracatu
Eu sou um auto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
Eu sou do mangue também

Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte.

Sou Macambira de Joaquim Cardoso
Banda de Pife no meio do Canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão.


BALADA DOS 400 GOLPES
(Márcio Borges, Thomas Roth & Luiz Guedes)
  Dentro de mim uma estrela arde no peito e derrama
Calma, coração, a razão não é dona do destino
Toda emoção mulher.

Toda mulher é uma lua de claridade e mistério
Nasceu pra ser minha estrela da guia
Companhia para o que Deus quiser

Pode ter razão de queimar a cidade então
E com outro amor, como se nada for
Quatrocentos golpes no beijo que não me deu
E também doeu, como se nunca mais.

Quero bem comigo essa fera
Deusa que tudo reclama
É como eu, bem capaz de perder o seu juízo
Tal qual um ser qualquer

Eu por minha vez, um menino
Filho de leite das ruas
No vendaval e meus olhos jorrados de desejo
Com a rapidez da luz.

Pode ter razão de queimar a cidade então
E com outro amor, como se nada for
Quatrocentos golpes no beijo que não me deu
E também doeu, como se nunca mais.
PAGU  ( Rita Lee & Zélia Duncan)
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem.

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem
Minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima.



dezembro 29, 2016

SEIOS (Patrícia Clemente)
Sofia, eu no teu rosto busco espelho,
Enquanto beijo os nós dos teus artelhos,
Enquanto tocas com teus pés meus seios.

E o corpo sabe: sou-te assemelhada,
E leva o pé à tua coxa amada,
Sou presa seduzida por teus cheiros.

E o corpo sabe o quanto é aquecido
Meu pé que sobe dentro do vestido,
Sorrindo do macio dos teus pentelhos.

E o corpo sabe: sou-te parecida,
Toco a mim mesma ao te tocar, amiga,
Se pouso, enfim, os dedos nos teus seios.

E o corpo sabe bem que sou-te gêmea
Me fazes louca, lúcida ou boêmia,
No gesto em que se unem nossos seios.

Sofia, no meu rosto tens espelho,

De quanto bem me faz amar teus seios.



RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
(Manoel de Barros)
A maior riqueza
do homem é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem

usando borboletas.

dezembro 28, 2016

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS  (Manoel de Barros)
Uso a palavra para compor meus silêncios.


Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA  ( Manoel de Barros)
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.

Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!



O  AMOR ( Khalil Gibran )
Quando o amor vos chamar, segui-o,

Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
“Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.



dezembro 26, 2016

VITORIOSA
(Ivan Lins & Vitor Martins)
Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa.
Quero sua alegria escandalosa
Vitoriosa por não ter
Vergonha de aprender como se goza.
Quero toda sua pouca castidade
Quero toda sua louca liberdade
Quero toda essa vontade
De passar dos seus limites
E ir além, e ir além.
Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa
Que a vida pode ser maravilhosa.
Quero toda sua pouca castidade
Quero toda sua louca liberdade
Quero toda essa vontade
De passar dos seus limites
E ir além, e ir além.
Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa
Que a vida pode ser maravilhosa.