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abril 30, 2019

HIMENEU (vinícius de moraes)

Na cama, onde a aurora deixa 
Seu mais suave palor 
Dorme ninando uma gueixa 
A dona do meu amor. 


De pijama aberto, flui 
Um seio redondo e escuro 
Que como, lasso, possui 
O segredo de ser puro. 



E de uma colcha, uma coxa 
Morena, na sombra frouxa 
Irrompe, em repouso morno 



Enquanto eu, desperto, a vê-la 
Mesmo sendo o homem dela 
Me morro de dor-de-corno.

BALADA DAS MENINAS DE BICICLETA(Vinícius de moraes)

Meninas de bicicleta 
Que fagueiras pedalais 
Quero ser vosso poeta! 
Ó transitórias estátuas 
Esfuziantes de azul 
Louras com peles mulatas 
Princesas da zona sul: 
As vossas jovens figuras 
Retesadas nos selins 
Me prendem, com serem puras 
Em redondilhas afins. 
Que lindas são vossas quilhas 
Quando as praias abordais! 
E as nervosas panturrilhas 
Na rotação dos pedais: 
Que douradas maravilhas! 
Bicicletai, meninada 
Aos ventos do Arpoador 
Solta a flâmula agitada 
Das cabeleiras em flor 
Uma correndo à gandaia 
Outra com jeito de séria 
Mostrando as pernas sem saia 
Feitas da mesma matéria. 
Permanecei! vós que sois 
O que o mundo não tem mais 
Juventude de maiôs 
Sobre máquinas da paz 
Enxames de namoradas 
Ao sol de Copacabana 
Centauresas transpiradas 
Que o leque do mar abana! 
A vós o canto que inflama 
Os meus trint'anos, meninas 
Velozes massas em chama 
Explodindo em vitaminas. 
Bem haja a vossa saúde 
À humanidade inquieta 
Vós cuja ardente virtude 
Preservais muito amiúde 
Com um selim de bicicleta 
Vós que levais tantas raças 
Nos corpos firmes e crus: 
Meninas, soltai as alças 
Bicicletai seios nus! 
No vosso rastro persiste 
O mesmo eterno poeta 
Um poeta - essa coisa triste 
Escravizada à beleza 
Que em vosso rastro persiste, 
Levando a sua tristeza 
No quadro da bicicleta.

A ANUNCIAÇÃO (Vinícius de moraes)

Montevidéu
Virgem! filha minha 
De onde vens assim 
Tão suja de terra 
Cheirando a jasmim 
A saia com mancha 
De flor carmesim 
E os brincos da orelha 
Fazendo tlintlin? 
Minha mãe querida 
Venho do jardim 
Onde a olhar o céu 
Fui, adormeci. 
Quando despertei 
Cheirava a jasmim 
Que um anjo esfolhava 
Por cima de mim...

SONETO DE MARTA ( Vinícius de Moraes )

Teu rosto, amada minha, é tão perfeito

Tem uma luz tão cálida e divina
Que é lindo vê-lo quando se ilumina
Como se um círio ardesse no teu peito.

E é tão leve teu corpo de menina

Assim de amplos quadris e busto estreito

Que dir-se-ia uma jovem dançarina
De pele branca e fina, e olhar direito.

Deverias chamar-te Claridade

Pelo modo espontâneo, franco e aberto

Com que encheste de cor meu mundo escuro.

E sem olhar nem vida nem idade

Me deste de colher em tempo certo

Os frutos verdes deste amor maduro.