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julho 31, 2017


FORA  DE  HORA
(Dori  Caymmi & Chico Buarque)
Fora de hora o meu coração
Pega a pensar no seu 
Será que ele também
De mim não se esqueceu. 


Será que embora um bom coração
Deseja mal ao meu
Será que diz que nem
Sequer me conheceu.

Quando é tempo de serenar 
Quando é hora de recolher 
Por que vai e vem 
Na gente um bem 
Querer.

Quando já nem balança o mar
Quando nem uma luz se vê
Nem um dia além 
Da noite sem
Você.

Agora mora o meu coração
Sozinho como quer
Sem outra dor senão
A dor de ser mulher
E estar à sua mão 
Quando você vier.

ÂMBAR (Adriana  Calcanhotto)
Tá tudo aceso em mim
Tá tudo assim tão claro
Tá tudo brilhando em mim.

Tudo ligado.

Como se eu fosse um morro iluminado
Por um âmbar elétrico que vazasse dos prédios
E banhasse a Lagoa até São Conrado
E ganhasse as Canoas aqui do outro lado.

Tudo plugado, tudo me ardendo.

Tá tudo assim queimando em mim
Como salva de fogos
Desde que sim eu vim
Morar nos seus olhos.
EU QUE NÃO SEI QUASE NADA DO MAR
Garimpeira da beleza te achei na beira de você me achar. Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar. E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer. Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer.
Eu que não sei quase nada do mar descobri que não sei nada de mim
Clara noite rara nos levando além da arrebentação. Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Clara noite rara nos levando além da arrebentação. Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Me agarrei em seus cabelos, sua boca quente pra não me afogar. Tua língua correnteza lambe minhas pernas como faz o mar. E vem me bebendo toda me deixando tonta de tanto prazer. Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio, não vou esquecer
Eu que não sei quase nada do mar descobri que não sei nada de mim
Clara noite rara nos levando além da arrebentação. Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão. Clara noite rara nos levando além da arrebentação. Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão.
( Ana Carolina & Jorge Vercilo)

julho 28, 2017

O  BEIJO (Denise  Emmer)
Levou-me sem feitas frases
Somente passo e camisa
Roubou-me um beijo de brisa
Na quadratura da tarde.

Jogou-me contra a parede
Rasgou-me a blusa de linho
Roubou-me um beijo de vinho
Diante das aves vesgas.

Puxou-me para seu fundo
Rompeu a rosa pirâmide
Roubou-me um beijo de sangue
E bateu asas no mundo.

CANÇÃO PARA UM GRANDE AMOR
(Isabella Taviani)
 Mas agora vai
Deixa o vento te seduzir
Deixa o novo sonho te invadir
E não volte nunca mais aqui pra me esperar.

Agora vai
Lança teu destino em outro mar
Não recues nunca pra ancorar
Nunca pra duvidar.

Deixa o sol queimar a tua pele
Deixa o céu forrar a tua cama
Deixa amanhecer tua chama, teus desejos.

Mas agora vai
Porque há vida em outra dimensão
Porque há paz no outro coração
Por que com a gente não!
Por que com a gente não?

Agora vai
Buscar os novos horizontes
Pousar no colo de outros ombros
Saciar a sede do teu corpo louco.

Vai pra sempre vai
ser feliz é uma estrada sem fim
Tens a força que eu nunca atingi
Tens a dor mas ainda sei que tens a mim.




EMBARCAÇÃO DO AMOR(Adriano Gama)
Velejo nos sonhos e prazeres
Deste amor
Que insiste em assoprar
As velas
Do meu barco
Na direção
De teus desejos
Ancorado eu fico
Em teus anseios
Que revelam
Segredos íntimos
E nossos instintos
Enlouquecem ao descobrirem
Estes mistérios 
Navegando em
Teu corpo
Agitado
As minhas mãos
Traçam o percurso
Que nos interessa
E passam a comandar o barco,

Exploramos este mar
De rosas
Para nos perder
De amor
Como dois
Náufragos que se descobrem
Numa ilha deserta.



TRANSA DE PALAVRAS (Bruno Barros)
Justifico a poesia desabotoando botões,
Sem ousadas mãos,
Com roupas ao vento e
Seus joelhos ao chão

Na tranquilidade de nossa cama
Entrelaçou-me em pernas brancas.
Entre os macios dedos e toques
Lábios meus nos seios teus.

Com nossas sujas palavras,
Quão tórridos fomos intensos.
Desde o alto calor imponente,
À malícia sempre presente

Comia-me com pequenos olhares,
Dominando-te com euforia,
Fazendo banquete no sexo meu,
Molhando-o com doce saliva

Genuína vida perfumada
Junto a teus baixos encantos.
No caminho da flor desabrochada,
Minha língua adentrava.

Mas é apenas penetrando bem fundo,
Chegando à essência nossa,
Que sabemos como foi complicado:
Tornar duas almas em uma,
Adentrar em ti,
Ser bem amado

Embriagou-me o íntimo,
Com o presente suor metido.
Criando música em meus ouvidos,
Ritmando seus gemidos.

E prestes a explodir,
Manchamos o ardente lençol,
Contraindo pés e mãos,
Numa gozada conclusão,
De que nós chegamos ao fim.




TRÊS IDADES  (Manuel Bandeira)
A vez primeira que te vi,
Era eu menino e tu menina.
Sorrias tanto. Havia em ti
Graça de instinto, airosa e fina.
Eras pequena, eras franzina.

Ao ver-te, a rir numa gavota,
Meu coração entristeceu.
Por quê? Relembro, nota a nota,
Essa ária como enterneceu
O meu olhar cheio do teu.

Quando te vi segunda vez,
Já eras moça, e com que encanto
A adolescência em ti se fez!
Flor e botão. Sorrias tanto.
E o teu sorriso foi meu pranto.

Já eras moça. Eu, um menino.
Como contar-te o que passei?
Seguiste alegre o teu destino.
Em pobres versos te chorei
Teu caro nome abençoei.

Vejo-te agora. Oito anos faz,
Oito anos faz que não te via.
Quanta mudança o tempo traz
Em sua atroz monotonia!
Que é do teu riso de alegria?

Foi bem cruel o teu desgosto.
Essa tristeza é que mo diz.
Ele marcou sobre o teu rosto
A imperecível cicatriz:
És triste até quando sorris.

Porém teu vulto conservou
A mesma graça ingênua e fina.
A desventura te afeiçoou
À tua imagem de menina.
E estás delgada, estás franzina.

O  BEIJO  (Manuel  Bandeira)
Quando a moça lhe estendeu a boca
(A idade da inocência tinha voltado,
Já não havia na árvore maçãs envenenadas),
Ele sentiu, pela primeira vez, que a vida era um dom fácil
De insuspeitáveis possibilidades.

Ai dele!
Tudo fora pura ilusão daquele beijo.
Tudo tornou a ser cativeiro, inquietação, perplexidade:

— No mundo só havia de verdadeiramente livre aquele beijo.

ARTE DE AMAR ( Manuel Bandeira )


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação,
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

AMANHECENDO (Billy  Blanco)
Começou um novo dia
Já volta quem ia
O tempo é de chegar
De metrô chego primeiro
Se tempo é dinheiro
Melhor vou faturar
Sempre ligeiro na rua
Como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua
Para o que der e vier
A cidade não desperta
Apenas acerta
A sua posição
Porque tudo se repete
São sete, e às sete
Explode em multidão
Portas de aço levantam!
Todos parecem correr!
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer!
Vambora, vambora
Olha a hora
Vambora, vambora
Vambora, vambora
Olha a hora
Vambora, vambora
Vambora!

DESEJO  DIVINAL (Eunice Contente)
Palavras doces de prazer, desejo, amor e soberba.
Espalhadas, difusas em todo o meu corpo.
Fogem-me da ponta dos dedos das minhas mãos ébrias.
Pingam algo que não sei ainda o que é, mas espero beber.
Roda-viva, cores, amores pessoas e álcool
Moças lindas, rolam, rebolam, amaçam
Ao fundo, a diva! O alvo, o objectivo, atractivo. Divinal!
Eu quero, ou em sonho se ou mundo real
A musa ao cimo que se mexe como o vento
Sinto, por isso sei que existe, o vento!
Dança, intensamente! Mexe, encanta como uma serpente
Eu vejo ou imagino mas com o corpo dela deliro
Se sonho, que adormeça, se existe volta a mim.
Sinto-me no poder, sinto que te quero ter
Sou capaz diz-me onde estás 
Que na ponta dos dedos tenho o toque que pedes.
Na mão ébria o desejo que procuras
E no corpo inteiro o líquido que queres beber
Dança não pares, que no teu balanço encontro 
o cheiro que me leva a ti.
Sinto que és real e não um mito, e eu não acredito em amor platônico
Por isso torna-te minha hoje, e amanhã vai. 
Se te mostras, procuras alguém e deixa-me mostrar-te, um toque único
Beija-me, não és deusas mas hoje a minha musa, amanhã não sei.
Censura-me, oh tu de longe!
ELA E SUA JANELA (Chico Buarque)
Ela e sua menina
Ela e seu tricô
Ela e sua janela, espiando
Com tanta moça aí
Na rua o seu amor
Só pode estar dançando
Da sua janela
Imagina ela
Por onde hoje ele anda
E ela vai talvez
Sair uma vez
Na varanda.
Ela e um fogareiro
Ela e seu calor
Ela e sua janela, esperando
Com tão pouco dinheiro
Será que o seu amor
Ainda está jogando
Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua.
Ela e seu castigo
Ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor num bar
Só pode estar bebendo
Mas outro moreno
Joga um novo aceno
E uma jura fingida
E ela vai talvez
Viver duma vez
A vida.

julho 26, 2017


A PRIMEIRA VEZ EM QUE FITEI TEREZA
(Gilka  Machado)
A vez primeira em que te vi comigo.
De olhos voltados para os olhos meus.
Ante o impossível de seguir-te, amigo,
Tive desejos de dizer-te adeus.

Passaram meses nosso amor crescia
(a assim o houve conservado Deus!)
Naquela sereníssima agonia
Trocando olhares e dizendo adeus!

Tentei fugir, mas fui por ti vencida,
E, um dia, presa entre os braços teus,
Tive a impressão da extrema despedida
Primeiro beijo - derradeiro adeus!

Veio-te a saciedade do desejo;
Teceu o dado os labirintos seus.
Tão perto ainda e já quão longe vejo
O teu amor a me dizer adeus!

Passou depressa como que se evade
teu lindo vulto, entre os soluços meus.
Vieste pra deixar esta saudade
a me acenar, num imortal adeus!



PARTICULARIDADES (Gilka Machado)

PARTICULARIDADES (Gilka Machado)
Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco, em vão, torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma os pelos.
Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto, pelos
meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis, rolarem-me os cabelos.
Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, aos boás, à pelica.
O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.


VOCÊ, VOCÊ (Guinga & Chico  Buarque)
Que roupa você veste, que aneis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?
Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta
Onde é que você some?
Que horas você volta?
Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?
Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?
Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?