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julho 28, 2017

TRÊS IDADES  (Manuel Bandeira)
A vez primeira que te vi,
Era eu menino e tu menina.
Sorrias tanto. Havia em ti
Graça de instinto, airosa e fina.
Eras pequena, eras franzina.

Ao ver-te, a rir numa gavota,
Meu coração entristeceu.
Por quê? Relembro, nota a nota,
Essa ária como enterneceu
O meu olhar cheio do teu.

Quando te vi segunda vez,
Já eras moça, e com que encanto
A adolescência em ti se fez!
Flor e botão. Sorrias tanto.
E o teu sorriso foi meu pranto.

Já eras moça. Eu, um menino.
Como contar-te o que passei?
Seguiste alegre o teu destino.
Em pobres versos te chorei
Teu caro nome abençoei.

Vejo-te agora. Oito anos faz,
Oito anos faz que não te via.
Quanta mudança o tempo traz
Em sua atroz monotonia!
Que é do teu riso de alegria?

Foi bem cruel o teu desgosto.
Essa tristeza é que mo diz.
Ele marcou sobre o teu rosto
A imperecível cicatriz:
És triste até quando sorris.

Porém teu vulto conservou
A mesma graça ingênua e fina.
A desventura te afeiçoou
À tua imagem de menina.
E estás delgada, estás franzina.

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