Seguidores

25/07/2017

ESPADAS DA MELANCOLIA
(Eugénio de Andrade)
Um corpo
para estender a náufragos – o teu corpo.

Um rasto de cadelas aluadas,
um charco de maçãs apodrecidas
ou longas cabeleiras apagadas.

Não dizias palavras, ou só dizias
aquelas onde o rosto se escondia.

Palavras onde o sangue não abria
a corola de fogo à madrugada.

O azul não canta, a água morre
na mais secreta boca do teu corpo.

Aqui não brilha a terra, a luz é fria,
aqui o horizonte não respira.

Não havia vento: só medo e cobardia.