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janeiro 20, 2018

ONÍRICO (Ana Horta)
abre-me o sexo
como um livro
para ler com os olhos
e os dedos em êxtase
cada corpo é um livro

para leitores ávidos.
Derrama o mel dos teus olhos
na tesão das páginas
Dentro das paredes brancas do quarto
só tu existes
E toco-te apenas a contracapa da vida!
Deixaste um sorriso oblíquo
numa das páginas marcada
com o canto dobrado
Vou contar-te um sonho antigo
da adolescência do corpo:
Há uma negra hermafrodita dançando nua
em torno de uma fogueira
o cabelo curto em caracóis fortes 
como a púbis
a pele suada, brilhando
o pénis enorme, erecto
os seios pequenos e firmes.
A música tribal imparável como o desejo..
a fogueira arde
deita fagulhas sob as estrelas
e a negra dança suada
sob os meus olhos suados.
Sempre que tenho cinzas sobre a pele
ela volta a acendê-las
com a sua dança louca
repete o suor do mel
o som dos tambores.
Agora,
estás de cócoras olhando o fogo
vestido com trapos negros
Sorris,
os teus dentes atravessam a fogueira
e rasgam-me os seios
como madeira em brasa.