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28/05/2017

CANÇÃO PRIMAVERIL (David Mourão Ferreira)


Anda no ar a excitação
de seios súbito exibidos
à torva luz de um alçapão,
por onde os corpos rolarão,
mordidos!
Ou é um deus, ou foi a morte
que nos vestiu este torpor;
e a primavera é um chicote,
abrindo as veias e o decote
ao meu amor!
Esqueço que os dedos têm ossos:
é só de sangue esta carícia;
apenas nervos os pescoços.
Mas nos teus olhos, nos meus olhos,
a luz da morte brilha.