Seguidores

21/05/2018

O SEXO (
Orlando Neves)

Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito, 
lentamente descida, sedimento e sede, 
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca, 
movediça e infirme. Só no olhar, além 

da luz e da cal, se distinguem os desejos 
e a mestria das palavras. E não há remos 
nem astros. Convido a neblina a esta 
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo 

solar ou os signos se alteiam. É a hora 
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas 
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa, 

quando o vigor agoniza e o vão das águas abre 
o caos e os ecos? Estaremos em paz, 
usando a palavra, última herdeira das areias.