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08/04/2023

A BOCA ( Eugénio de Andrade )

 A boca,

 onde o fogo
 de um verão
 muito antigo cintila,
 a boca espera
 (que pode uma boca esperar senão outra boca?)
 espera o ardor do vento
 para ser ave e cantar.
  Levar-te à boca,
 beber a água mais funda do teu ser
 se a luz é tanta,
 como se pode morrer?