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novembro 09, 2024

CELEBRANDO O MEU ÚTERO ( Anne Sexton )

 Tudo em mim é uma ave.

Esvoaço todas as minhas asas.
Elas quiseram cortar-te
mas não o farão.
Disseram que eras infinitamente vazio
mas não és.
Disseram que estavas moribundo
mas enganaram-se.
Cantas como uma colegial.
           Não estás ferido.                      
Doce valor,   celebrando a mulher que sou
e a alma da mulher que sou
e a criatura central e o seu prazer
canto para ti. Atrevo-me a viver.
Olá, espírito. Olá, taça.
Firmada, coberta. Cobertura com conteúdo.
Olá, terra dos campos.
Bem-vindas, raízes.

Cada célula tem uma vida.
Há suficientes para agradar a uma nação.
Estes bens bastam à populaça.
Qualquer pessoa, qualquer comunidade diria,
“É óptimo podermos plantar novamente este ano
E ter perspectivas de uma colheita.
Previu-se míldio mas houve engano.”
Muitas mulheres cantam isto:
Uma está numa fábrica de sapatos, a amaldiçoar a máquina,
outra está no aquário a tratar uma foca,
outra aborrece-se ao volante do Ford,
outra recebe dinheiro na portagem,
outra ata a corda do vitelo no Arizona,
outra percorre a escala de um violoncelo na Rússia,
outra muda de turno num forno egípcio,
outra pinta as paredes do quarto da cor da Lua,
outra morre mas recorda um pequeno-almoço,
outra estende-se no seu tapete na Tailândia,
outra limpa o rabo do filho,
outra olha pela janela de um comboio
no meio do Wyoming e outra
está algures e algumas estão em toda a parte e todas
parecem cantar, embora algumas não saibam cantar uma nota.

Doce valor,
celebrando a mulher que sou
deixa-me andar com um lenço de três metros,
deixa-me atrair os rapazes de dezanove,
deixa-me transportar tigelas para a oferenda
(se é a parte que me toca).
Deixa-me estudar o tecido cardiovascular,
deixa-me examinar a distância angular de meteoros,
deixa-me chupar os caules das flores
(se é a parte que me toca).
Deixa-me desenhar umas imagens tribais
(se é a parte que me toca).
Por esta coisa que o corpo precisa,
deixa-me cantar
pela ceia,
pelos beijos,
pelo sim
correcto.