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09/12/2016

A MULHER 
(António Ramos Rosa)

Se é clara a luz desta vermelha margem 

é porque dela se ergue uma figura nua 
e o silêncio é recente e todavia antigo 
enquanto se penteia na sombra da folhagem. 
Que longe é ver tão perto o centro da frescura 

e as linhas calmas e as brisas sossegadas! 


O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço 

que no umbigo principia e fulge em transparência. 

Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo 

que em espiral circula ao ritmo da origem. 
Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola 

do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa. 

O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar. 

Quase dorme no suave clamor e se dissipa 
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.