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dezembro 11, 2016

PEDRA  FILOSOFAL 
(António Gedeão)

Eles não sabem que o sonho 
é uma constante da vida 
tão concreta e definida 
como outra coisa qualquer, 
como esta pedra cinzenta 
em que me sento e descanso, 
como este ribeiro manso 
em serenos sobressaltos, 
como estes pinheiros altos 
que em verde e oiro se agitam, 
como estas aves que gritam 
em bebedeiras de azul. 

Eles não sabem que o sonho 

é vinho, é espuma, é fermento, 

bichinho álacre e sedento, 

de focinho pontiagudo, 

que fossa através de tudo 

num perpétuo movimento. 

Eles não sabem que o sonho 

é tela, é cor, é pincel, 

base, fuste, capitel, 

arco em ogiva, vitral, 

pináculo de catedral, 

contraponto, sinfonia, 

máscara grega, magia, 

que é retorta de alquimista, 

mapa do mundo distante, 

rosa-dos-ventos, Infante, 

caravela quinhentista, 

que é Cabo da Boa Esperança, 

ouro, canela, marfim, 

florete de espadachim, 

bastidor, passo de dança, 

Colombina e Arlequim, 

passarola voadora, 

pára-raios, locomotiva, 

barco de proa festiva, 

alto-forno, geradora, 

cisão do átomo, radar, 

ultra-som, televisão, 
desembarque em foguetão 
na superfície lunar. 

Eles não sabem, nem sonham, 

que o sonho comanda a vida. 

Que sempre que um homem sonha 

o mundo pula e avança 

como bola colorida 

entre as mãos de uma criança. 





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