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09/06/2017

CARNE (Anderson  Christofoletti)
I
A rosa que se revela
À contemplação lírica do poeta
Confessa toda sua
Incandescente ânsia
Antes resguardada.

Sua casta pele-pétala
Ganha a lascívia do instante:
Hiato que não mais
Sabe ao intemerato lírio.

És, agora, musa escarlate,
Desejo lúbrico dos seres platônicos.

Tua seiva é a gota de desejo
Que se dilui na boca sedenta do beijo.

Tua leitura pueril se concretiza
No êxtase natural do pecado.

Tua pele branca é banhada pela nuança
Do arrebol que rebenta todo pejo
Deste sobejo de amor.

São olhos que se traduzem;
São mãos que se perdem;
Sulcos, côncavos, curvas,
Ancas, coxas, seios, pelos.

Dentro da lânguida busca dos lábios,
Um grito de prazer se esboça
E não há força que possa
Com este orgasmo etéreo que se exprime.
II
Corpos
Na procura incessante dos opostos
 Formas que se completam.

Momento em que tudo se consome
À flor em fogo
Da ébria inconsciência do gozo;
A inconsequência necessária
Que se acoita na magia do coito.

Estamos cegos,
Porém seguros,
Pois sabemos que a noite
Aos amantes pertence,
Que não cabe ao prazer o açoite
E que todo ato de amor é puro
(Visto que a entrega o é inerente).
III
Tem-se, então, a explosão
Que nos torna, por um breve espaço de tempo,
Imortais.

Rompe-se o harmônico pulsar
De toda atmosfera.

A fusão dos corpos se desfaz
Na efusão das almas.

Somos o que o universo comporta
E o que o verso só completa.

Somos partes refletidas num único cerne;
Somos rosa, amor, carne e poeta.