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05/06/2017

NOITE (Abgar  Renault)
Há duas pombas brancas no telhado. 
 Junto delas pousa o silêncio do dia já parado, 
 e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo. 
 É tarde nos telhados e nas árvores, 
 é tarde (triste e mais tarde) nessa rua 
 que se reabriu no fundo de um olhar, 
 onde se movem ressurrectos mármores 
 e começam a discorrer ventos e velas 
 por sobre a limpidez das mesmas águas velhas, 
 e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar. 
 Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes, 
 alongam a última distância, somem a luz que se destece 
 e a linha dos caminhos, apagam o verde prado. 
 Não há duas pombas brancas no telhado: 
 sobre elas, seu voo e seu arrulho ausentes 
 a lápide sem cor das horas desce.