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julho 15, 2024

PÁSSARO ( Cecília Meireles, "Retrato Natural", 1949 )


Aquilo que ontem cantava 
já não canta. 
Morreu de uma flor na boca: 
não do espinho na garganta

Ele amava a água sem sede, 
e, em verdade, 
tendo asas, fitava o tempo, 
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência: 
não foi nada. 
E o dia toca em silêncio 
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura: 
ir-se a vida 
sobre uma rosa tão bela, 
por uma tênue ferida.