No silêncio em ti sinto a terra arada.
As palavras separam e entre a tua e a minha pele
toda a distância doi
toda a roupa é um excesso intolerável.
Para tanto apelo os dedos são poucos
e a boca falta à respiração atropelada.
Se pudesse, engolia-me em ti
mas espero pela montanha, barca de fogo, céu de guerra
e já lacrimosa lança aterra montes, avança e recua, cavalga e para.
Foge, regressa, tem sede e tem pressa.
Sente de ti a surda voz das entranhas,
línguas e manhas, unhas e dentes, águas, chamas inclementes
e a morte que se anuncia em crispada libertação.
É no teu corpo a minha rua, a porta do sol, a estrada.
É em ti que nasce o mar, a canção, a toada.
Sozinhos somos o mundo na madrugada.