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04/11/2017

A UMA VIRGEM (Manuel Rodrigues)


Ah! tu nem sabias que a tua púbis
tinha a exacta medida da concha
de minha mão, nem suspeitavas
quanto de teu seio transbordaria
da outra que por trás te enlaçava. 
Só mal medias o espanto 
de sentires-me o hálito arfar
em teus cabelos e em ti toda
com que te perdeste, já rendida 
na surpresa de saberes-me 
contra a firmeza da tua carne,
no trémulo susto da tua pele
que há tanto tal dia esperava.

Sussurraste ainda a medo
não quero, sou tão nova! Mas tudo
te era já maduro e quente
em tua boca de sede e línguas,
aberta como já essoutros lábios.

Nem choraste como choram
vãs as que perdidas se acham.
Nem uma lágrima te caiu. Era 
apenas o suor puro e o sangue
e teus loucos olhos líquidos
que naquela hora e nos lençois
ofereceras à vida misturados,
não por mim – bem o sabias –,
mas por outro que em tua casa, 
daí a meses, daí a anos, todas 
as noites se deitaria a teu lado, 
cumprindo o destino de ter filhos.

Talvez por isso tenhas dito, 
sem sorriso triste, sequer com gesto de 
fingido amor, mas de olhos seguros, 
certa quanto eu que nem haveria adeus:

Deixa, não foi nada, não tem mal.