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novembro 09, 2017


Com que palavras irei escrever agora o nome 
das horas que entram pela cama em que noutra vida 
te ensinei o caminho do meu corpo 
e da justeza dos gestos com que a alegria 
se desenhava em mim quando dizias 
agosto tu vais ver é a nossa pátria
nessa altura o verão vinha ainda muito longe 
e por isso era possível acreditar em frases dessas 
esperando que tudo acontecesse 
como nos perdoáveis lugares-comuns dos filmes 
que estreiam sempre no natal 
e furiosamente desejei que a paixão se enredasse 
entre os limos e sargaços das tuas pernas
mas agosto foi apenas um lugar de emboscadas 
em todos os precipícios da nossa cama 
e lentamente as águas definiram 
com rigor implacável 
o que sobrava de ti nas minhas mãos
e o silêncio baixou sobre as águas 
como antes da invenção do mundo
e agora não sei onde acaba o teu nome
e começa o nome de deus.
(Alice  Vieira)