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07/04/2023

DIANTE DAS FOTOS DE EVANDRO TEIXEIRA ( Carlos Drummond De Andrade )

A pessoa, o lugar, o objeto
 estão espostos e escondidos
 ao mesmo tempo so a luz,
 e dois olhos não ão bastantes
 para captar o que se oculta
 no rápido florir de um gesto.
  É preciso que a lente mágica
 enriqueça a visão humana
 e do real de cada coisa
 um mais seco real extraia
 para que penetremos fundo
 no puro enigma das figuras.
  Fotografia - é o codinome
 da mais aguda percepção
 que a nós mesmos nos vai mostrando
 e da evanescência de tudo,
 edifica uma penanência,
 cristal do tempo no papel.
  Das luas de rua no Rio
 em 68, que nos resta
 mais positivo, mais queimante
 do que as fotos acusadoras,
 tão vivas hoje como então,
 a lembrar como a exorcizar?
  Marcas de enchente e do despejo,
 o cadáver inseputável,
 o colchão atirado ao vento,
 a lodosa, podre favela,
 o mendigo de Nova York
 a moça em flor no Jóquei Clube,
  Garrincha e Nureyev, dança
 de dois destinos, mães-de-santo
 na praia-templo de Ipanema,
 a dama estranha de Ouro Preto,
 a dor da América Latina,
 mitos não são, pois são fotos.
  Fotografia: arma de amor,
 de justiça e conhecimento,
 pelas sete partes do mundo
 a viajar, a surpreender
 a tormentosa vida do homem
 e a esperança a brotar das cinzas.