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05/12/2023

ODE ( José Anastácio da Cunha )

Já quasi até morria

C’os olhos nos da amada.

E ela que se sentia

Não menos abrasada:

– “Ai, caro Atfes! – dizia –

Não morras inda, espera

Que eu contigo morrer também quisera”

A ansia com que acabava

A vida, Atfes, refreia,

E, enquanto a dilatava,

Morte maior o anseia.

Os olhos não tirava

Dos do ídolo querido,

Nos quais bebia o Néctar diluído.

Quando a gentil Pastora,

Sentindo já chegada

Do doce gôsto a hora,

Com a vista perturbada

Disse, tremendo: – “Agora

Morre, que eu morro, amor”

– “E eu – disse ele – contigo”

Viram-se desta sorte

Os dois finos amantes

Mortos ambos de um tal corte;

E os golpes penetrantes

Desta casta de morte

Tanto lhe agradaram,

Que para mais morrer recuscitaram.