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julho 24, 2024

POEMA 14 (Alice Vieira)

 Toma-me ainda em tuas mãos e

não perguntes nada

nem sequer dês um nome aos gestos que se abrigam como um fruto uma promessa um murmúrio
nas fogueiras ateadas em junho


juro que vou escolher palavras que não doam parecidas com as que sempre encontrava
nas camas em que tantas vezes te enterrei
por dentro do meu corpo

 

toma-me ainda em tuas mãos eu sei que
temos pouco tempo que não queres
inventar novos ardis para um desamor tão velho
mas vais ver

o mundo é apenas isto    e para isto

não procures nenhuma filosofia redentora

porque tudo é no fim de contas tão banal

 

podes por isso começar a refazer a estrada que
te levava ao centro dos meus dias e esperar
que eu chegue com um retrato desfocado nas mãos
na hora certa de abrir para ti as minhas veias