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07/03/2025

A UMA PASSANTE (Charles Baudelaire)trad.: Fernando Pinto do Amaral

A rua ia gritando e eu ensurdecia.
Alta, magra, de luto, dor tão majestosa, 
Passou uma mulher que, com mãos sumptuosas, 
Erguia e agitava a orla do vestido; 
Nobre e ágil, com pernas iguais a uma estátua. 
Crispado com um excêntrico, eu bebia, então, 
Nos seus olhos, céu plúmbeo onde nasce o tufão, 
A doçura que encanta e o prazer que mata. 
Um raio e depois noite! – Efémera beldade 
Cujo olhar me fez renascer tão de súbito, 
Só te verei de novo na eternidade? 
Noutro lugar, bem longe! é tarde! talvez nunca! 
Porque não sabes onde vou, nem eu onde ias, 
Tu que eu teria amado, tu que bem sabias!