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dezembro 11, 2016

AMA-ME
Hilda  Hilst )

Aos amantes é lícito a voz desvanecida. 
Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido: 
Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora, 
Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. Não vês 
Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo 
Ronda escurecida? 

Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento 

Num vórtice de sombra. Podes cantar de amor 

Quando tudo anoitece? Antes lamenta 

Essa teia de seda que a garganta tece. 


Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito 

Vertigens e pedidos. E é tão grande a minha fome 

Tão intenso meu canto, tão flamante meu preclaro tecido 

Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.










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