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dezembro 11, 2016

MAOMÉ E A MONTANHA(
Rosa  Alice  Branco )

Guardo o mais absoluto segredo 
das pedras que rolam no fundo dos leitos 
embora nada saiba, 
nada ouse saber. 
Vou pelo olhar até ao rio, 
o rio vem a mim 
e ambos caminhamos deslumbrados 
para fora de nós.
O cantar da água 

corre nos meus olhos exactamente como corre 

a manhã 
até que o sol a prumo 
faz de mim o desenho do rio 
que vejo, 
o mapa das veias 
onde o corpo nasce de novo.
À vinda procuro a minha sombra. 

O coração que me há-de trazer de volta 

demora-se no rio 
como se nele corresse 
uma sede de olhar. 
Os pés colam-se à margem. 

Do outro lado as casas vão mudando 

de expressão 
mais lentamente do que a água corre. 
O sol abraça-me pelas costas 
e deixa-se escorregar como crianças 
que riem, 
que não distinguem a voz seca do tempo. 
É noite à lareira da casa. 

Os objectos acendem-se: 

também eles mudam de rosto 
como tudo o que é iluminado por amor. 
Aproximo-me de longe, 
venho do rio, 
o rio vem de mim.

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