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04/08/2017

VERTENTES (António Ramos Rosa)

As palavras esperam o sono 
e a música do sangue sobre as pedras corre 
a primeira treva surge 
o primeiro não a primeira quebra. 
A terra em teus braços é grande 
o teu centro desenvolve-se como um ouvido 
a noite cresce uma estrela vive 
uma respiração na sombra o calor das árvores. 
Há um olhar que entra pelas paredes da terra 
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra 
começo a entender o silêncio sem tempo 
a torre extática que se alarga. 
A plenitude animal é o interior de uma boca 
um grande orvalho puro como um olhar. 
Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio 
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa 
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo 
sou a sombra que conhece a luz que a submerge. 
A luz que sobe entre 
as gargantas agrestes 
deste cair na treva 
abre as vertentes onde 
a água cai sem tempo.