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29/01/2024

PANDORA ( Graça Pires )

 De múltiplos espelhos emergiu a fêmea. 

Divina e humana. 
Estratagema de zeus para ser perverso, 
no tempo em que os homens 
e os deuses se divertiam juntos. 
Era irrelevante acorrentar-lhe os pulsos. 
Suas mãos eram aves 
ansiosas de voos ousados. 
Os ventos, deslumbrados, 
soltaram a luz e a sombra 
em seus dedos que, sem pudor, 
destaparam o vaso da inocência. 
A palavra culpada enroscou-se-lhe 
no corpo como um estigma sem fim. 
E apenas bem no fundo dos seus olhos 
permaneceu, para sempre, a esperança 
de ser salva ou de salvar.