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julho 14, 2024

LÍRICA DO CIBORGUE ( E. M. de Melo e Castro )

 o ciborgue habita

debaixo da tua pele

pouco a pouco
ele toma conta
de todos os teus
sentidos e não sentidos

com os olhos ele vê
as cores que não há

nos ouvidos
músicas silenciosas

pela pele os toques
tocam nas coisas
imponderáveis
na boca os sabores
sabem de cor
os desgostos do gosto
no nariz
os odores são
as dores que sobem
desde a raiz
e no todo teu corpo
eles inauguram
os movimentos
que são teus pensamentos
na mágica do leve
levitarás em breve
nos espaços
abstratos
de todos os teus atos

trilhões das tuas células
serão sutilmente alteradas
e as funções
dos teus órgãos
serão novas

quando já não terás
um só eu

mas vários eus
que nem sequer
serás

é com eles
que para sempre
viverás
para além do óbvio

Homo Sapiens Ciborgue
irmão de mim próprio