Seguidores

julho 14, 2024

AMOR SAGRADO ( Isabel Wolmar )

 Um luar tímido, pardacento

iluminava os dois corpos
deitados no areal ainda quente
de hálitos de fogo infernal.

 

A pálida mulher de cabelos de Mistério
sereia mitológica saída das ondas
acolheu em seus braços de leitosa maciez
o homem, deus mítico
corpo de marés revoltas.

 

Fulminados por um raio incandescente

seus corpos uniram-se

como almas esfomeadas

dilatando o tempo num pulsar onírico.

 

O corpo de marés revoltas
penetrou a gruta da mulher pálida
inundando-a com as suas águas primordiais.

 

Em vibrações de cristal fendido

gemidos cortaram a noite de mil olhos espantados

ao fundearem a âncora do prazer

bandos de aves marinhas soltaram voo

saudando a aurora que despontava.

 

Estrelas iam adormecendo uma a uma
num céu a gotejar manchas de anil
em gestos lentos, cansados.

Os dois corpos num só corpo
embrulharam-se em farrapos de nuvens
deram as mãos à noite moribunda
e partiram para o infinito.