Um luar tímido, pardacento
iluminava os dois corpos
deitados no areal ainda quente
de hálitos de fogo infernal.
A pálida mulher de cabelos de Mistério
sereia mitológica saída das ondas
acolheu em seus braços de leitosa maciez
o homem, deus mítico
corpo de marés revoltas.
Fulminados por um raio incandescente
seus corpos uniram-se
como almas esfomeadas
dilatando o tempo num pulsar onírico.
O corpo de marés revoltas
penetrou a gruta da mulher pálida
inundando-a com as suas águas primordiais.
Em vibrações de cristal fendido
gemidos cortaram a noite de mil olhos espantados
ao fundearem a âncora do prazer
bandos de aves marinhas soltaram voo
saudando a aurora que despontava.
Estrelas iam adormecendo uma a uma
num céu a gotejar manchas de anil
em gestos lentos, cansados.
Os dois corpos num só corpo
embrulharam-se em farrapos de nuvens
deram as mãos à noite moribunda
e partiram para o infinito.