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julho 15, 2024

ORÁCULO DE OXUM ( Lívia Natália )

O Rio foi feito para se beber.
De que servem os pés
a tatear Seu fundo macio?
Tolo ante o Mistério,
a interpretar com dedos cegos
o intangível lamoso de suas palavras?

A carne do Rio é feita de esperas.
Seu profundo é ancestral.
E memória assentada na inquietude escura.
As mãos do Rio madrugam silêncios
e lambem as pernas bonitas das lavadeiras,
lavando-se no sal de sua negrura.

O Rio, se aquietado nas Lagoas,
acha caminho de Mar
mordendo o útero da terra.
Vertido em Mar,
talha as embarcações
na salmoura das correntes,
cria fantasmas na beira,
tendo comido seus nomes.

Dizem que não se mede a profundidade de um Rio
com os dois pés.

Não mesmo.

O rio foi feito para se beber
      — com o corpo.
Foto: Erika Januza fez um ensaio inspirada em Oxum.