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outubro 25, 2024

OBRIGADA À VIDA (Violeta Parra)(Trad:.Maria Teresa A. Pina)

 Obrigada à vida

que me deu tanto
Deu-me dois olhos
que quando os abro
perfeito distingo
o preto do branco
no alto céu seu fundo estrelado
e nas multidões o homem que eu amo.

Obrigada à vida
que me deu tanto
Deu-me o ouvido
que em toda sua extensão
grava noite e dia
grilos e canários
martelos, turbinas, latidos, chuvaradas
e a voz tão terna do meu bem amado

Obrigada à vida
que me deu tanto deu-me o som
e o abecedário
com ele as palavras
que penso e declaro
“mãe, amigo, irmão”
e a luz, iluminando
o rumo da alma do que estou amando

Obrigada à vida
que me deu tanto
Deu-me a marcha
dos meus pés cansados
com eles andei
cidades e charcos
praias e desertos, montanhas e planos
tua casa, tua rua e teu pátio.

Obrigada à vida
que me deu tanto
Deu-me o coração
que agita seu marco
quando olho o fruto
do cérebro humano
quando olho o bom tão longe do mal
quando olho o fundo de teus olhos claros

Obrigada à vida
que me deu tanto
Deu-me a risada
e deu-me o pranto
assim distingo
felicidade de fraqueza
os dois materiais que formam meu canto
o canto de todos que é o mesmo canto
o canto de todos que é meu próprio canto Obrigada à vida!