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01/04/2018

De tanto te pensar, Sem nome, me veio a ilusão,
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.

De te pensar me deito nas aguadas

E acredito luzir e estar atada

Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.

De te sonhar, Sem nome, tenho nada
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cimos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
Do muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que existo e sou.

Quando sou nada: égua fantasmagórica

Sorvendo a lua n’água.

 *Hilda Hilst, no livro "Sobre a Tua Grande Face." São Paulo-1986.