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30/04/2023

AH, FALEMOS DA BRISA (Eugénio de Andrade)

 Eu dizia:

 "Nenhuma brisa é triste"
 e procurava água, lábios,
 um corpo
 onde a solidão fosse impossível.
   Mas quem sabe dessa música
 cativa nos meus dedos?
 E depois, como guardar um beijo.
 mar doirado ou sombra
 desolada?
   Recordava um rio,
 álamos,
 o sabor nupcial da chuva,
 tropeçava em lágrimas e soluços
 e lágrimas, e procurava.
   Como quem se despe
 para amar a madrugada nas areias,
 eu dizia: " Nenhuma brisa é triste,
 triste", e procurava.
   E procurava.