Ainda noite
chega-me à cama
a poesia.
Tange-me a veia
prende meus dedos
sobe-me ao ventre.
Destranço as pálpebras
no rosto espanto
ponho, de pó.
Todos os dias, ainda noite, destranço as pálpebras.
Cola-se ao corpo
tonto de sono
a poesia.
Desnuda o ombro
adere à pele
busca-me a anca
cose seu dente
na carne. E o dia
no espelho côncavo
se delineia.
- Deixa-me os ossos
rogo e suplico.
Rói-me o esqueleto
morde meus dedos
arranca a pele
suga-me a veia
fere-me a anca
rasga meu ventre
devora a carne
atinge o cerne
a poesia
enquanto o dia
no espelho côncavo