Pairávamos acesos como pássaros à luz, era verão
e adormecíamos no ventre das fogueiras
– prometeicos utensílios que hasteavam sobre a noite
a solidão da nossa escura juventude.
Sobre as bocas arquejantes, sobre as nucas
e os cabelos inflamados de pavor,
sobre os versículos que inscrevíamos
nos flancos prematuros,
desvendávamos as facas da nudez
e uma lâmina de sangue abria o sexo nas tábuas.
Lembro agora: eram pungentes os perfumes, as grainhas
do lamento, a adolescência que endossávamos
ao voo dos pardais, quando em segredo,
docemente desnudados nos estábulos de Agosto,
pressentíamos o pássaro tombar nas cercanias,
delicada pulsação de pombo fúnebre
das núpcias. Lembro agora: a tua morte de rapaz
nupcial, ardente mística da carne à flor da pele
abrindo a flor e a raiz da minha carne,
enquanto os mortos, ao redor, nas suas câmaras
de sombra, como lírios que brilhassem
pelos quartos obscuros
vigiavam em silêncio, e descobriam-se,
de súbito, vingados.