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setembro 08, 2024

AO VENTO ( Florbela Espanca )

 O vento passa a rir, torna a passar,

Em gargalhadas ásp’ras de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há de rir; se há de chorar!
Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim, sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amar,
A tua voz tortura toda a gente!
Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim! O vento, chora!
Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
E a gente andar a rir p’la vida fora!