Seguidores

março 06, 2017

DEPRESSÃO (Adalcinda Camarão)
[Aos manos Céli e Edir]
Quero ar. Ar puro dos campos marajoaras.
Água enchente de rio - temperatura do meu corpo.
Pisar caminhos estreitos sem tráfego.
Beber chuva - comer caça
na faísca arisca da brasa
que o boi vigia.
Quero vento alísio - uma só estação todo ano!
Olhos. Inteligência.
Brasilidade. Gargalhada.
Silêncio de rádio, de relógio, de telefone.
(Não fale em televisão, por favor.)
Quero plantar frutas e legumes,
criar aves
que me sustentam e se misturem comigo.
Quero os meus cabelos que cobriam os joelhos.
(Quem cortou os meus cabelos, ninguém se lembra.)
Quero falar em poesia descuidada
num degrau de ponte velha,
onde os barcos cochilam
à maresia do luar.
Uma rede de esse rangindo sonolentamente
num canto sombrio da varanda invadida
dos galhos do biribazeiro.
Quero a noite. Candeeiro espetado ao alto da parede
com uma paisagem de Sílvio Pinto.
Quero fugir para o verão do meu Pará.
Quero o meu homem!
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário