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14/08/2017

TU (Cesare Pavese)
Tens sangue, respiras.
És feita de carne 
de cabelos de olhares 
também tu. Terra e árvores, 
céu de março, luzes, 
vibram e imitam-te -
o teu riso e o teu andar 
são águas que estremecem - 
a ruga entre os olhos 
nuvens amassadas -
o teu corpo macio 
um torrão ao sol. 

Tens sangue, respiras. 
Vives sobre esta terra. 
Conheces-lhe os sabores 
as estações os despertares 
brincaste ao sol, 
falaste conosco. 
Água clara, botão
primaveril, terra, 
silêncio que germina,
tu brincaste menina
debaixo dum céu diferente, 
tens nos olhos o seu silêncio,
uma nuvem que brota
como mina profunda.
Agora ris e estremeces
sobre este silêncio.
Doce fruto que vives 
sob o céu claro,
que respiras e vives
esta nossa estação,
no teu silêncio secreto
está a tua força. Como
erva viva no ar
arrepias-te e ris-te
mas tu, tu és terra.
Raiz feroz.
A terra que espera.